Sobre a “Sola Scriptura”

Desde a Reforma Protestante do séc. XVI, os irmãos separados seguem uma doutrina que a verdadeira Igreja de Cristo jamais aceitou em seu meio: a “Sola Scriptura”, ou seja, a falsa idéia de que somente a Bíblia é a fonte de autoridade e fé para o cristão, refutando a Sagrada Tradição e a autoridade da Igreja.

Adotando tal conceito, as igrejas de tradição protestantes multiplicam-se tão rapidamente quanto as células de uma criança… Hoje, existem mais de 20 mil denominações evangélicas, cada qual pregando sua “verdade particular”, como se esta não foi Única.

O erro consiste em querer limitar a Palavra de Deus e crer que é o Espírito Santo que os dirigem em suas interpretações da Sagrada Escritura. Os testemunhos abaixo demonstram que a adoção da “Sola Scriptura” nunca foi defendida pela Igreja Primitiva pois levava às piores heresias… É, assim, um recado vivo para o mundo de hoje onde a multiplicidade de doutrinas leva a fé cristã ao descrédito dos infiéis.

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“Perguntando eu com toda a atenção e diligência a numerosos varões, eminentes em santidade e doutrina, que norma poderia achar segura para distinguir a verdade da fé católica da falsidade da heresia, eis a resposta constante de todos eles: quem quiser descobrir as fraudes dos hereges nascentes, evitar seus laços e permanecer íntegro na sadia fé, há de resguardá-la, sob o duplo auxílio divino: primeiro, com a autoridade da lei divina e segundo com a tradição da Igreja católica. Ao chegar a este ponto, talvez pergunte alguém: sendo perfeito como é o cânon das Escrituras e suficientíssimo por si só para todos os casos, que necessidade há de se acrescentar a autoridade da interpretação da Igreja? A razão é que, devido à sublimidade da Sagrada Escritura, nem todos a entendem no mesmo sentido, mas cada qual interpreta à sua maneira as mesmas sentenças, de modo a se poder dizer que há tantas opiniões quantos intérpretes. De uma maneira a expõe Novaciano, diversamente Sabélio, Donato, Ário, Eunômio, Macedônio; de outra forma Fotino, Apolinário, Prisciliano; de outra, ainda, Joviniano, Pelágio, Celéstio ou Nestório. Portanto, é necessário que, em meio a tais encruzilhadas do erro, seja o sentido católico e eclesiástico o que assinale a linha diretriz na interpretação da doutrina dos profetas e apóstolos. E na própria Igreja Católica deve-se procurar a todo custo que nos atenhamos ao que, em toda a parte, sempre e por todos foi professado como de fé, pois isto é próprio e verdadeiramente católico, como o diz a índole mesma do vocábulo, que abarca a globalidade das coisas. Ora obte-lo-emos se seguirmos a universalidade, a antigüidade e o consentimento. Pois bem: seguiremos a universalidade se professarmos como única fé a que é professada em todo o orbe da terra pela Igreja inteira; a antigüidade, se não nos afastarmos do sentir manifesto de nossos santos pais e antepassados; enfim, o consentimento, se na mesma antigüidade recorrermos às sentenças e resoluções de todos ou quase todos os sacerdotes e mestres” (Vicente de Lérins, +450, Comonitório).

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