11. Pecado original e pessoal

O pecado original e seus efeitos 

Em sua Constituição sobre a Igreja no Mundo Moderno ensina o Vaticano II: “Constituído por Deus em estado de justiça, o homem contudo, instigado pelo Maligno, desde o início da história abusou da própria liberdade. Levantou-se contra a Deus desejando atingir seu fim fora dele”(Gaudium et Spes, nº 13)

Em forma narrativa, os capítulos 1 até 11 do Livro do Gênesis, descrevem este fato sombrio para a humanidade. Os capítulos 1 e 2 do Gênesis contam a história da criação por Deus. Deus criou todas as coisas, inclusive o homem e a mulher, e viu que tudo era bom.

Mas neste mundo perfeito entrou o pecado. No capítulo 3 do Gênesis vemos que o homem Adão rejeita a Deus e tenta tornar-se igual a Ele. Como conseqüência deste pecado original, o homem se sente afastado de Deus. Esconde-se. Quando Deus o interpela, Adão culpa sua mulher, Eva, pelo seu pecado, e ela, por sua vez, culpa a serpente. A lição é simples e trágica: o pecado do homem corrompeu a vida num pesado fardo.

Os capítulos 4 a 11 do Gênesis mostram o avanço do pecado no mundo, a partir do pecado original de Adão. Caim assassina seu irmão Abel. O pecado atinge tamanhas proporções que Deus manda um grande dilúvio que cobre a terra – símbolo do caos e loucura da humanidade chega ao auge: o homem tenta de novo tornar-se igual a Deus construindo uma torre que atinja os céus. Esta rejeição de Deus se manifesta na rejeição do próximo por parte do homem. Doravante existe divisão e completa falta de comunicação entre as nações.

Conforme o Gênesis, um mundo de belezas foi deformado pelo pecado. O resultado que se seguiu foi divisão, dor, derramamento de sangue, solidão e morte. Esta trágica narrativa exprime algo que sentimos na própria carne. A realidade que ela aponta faz parte fundamentalmente da experiência humana. Não nos surpreende que esta realidade – o fato do pecado original e seus efeitos em todos nós – seja um ensinamento da Igreja.

Com exceção de Jesus Cristo e de sua Mãe Maria, todo ser humano nascido neste mundo está contaminado pelo pecado original. Como São Paulo declara em Rom, 5, 12: “Por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e pelo pecado a morte, e assim a morte passou a todos os homens porque todos pecaram”.

Embora continue a mostrar que há o mal neste mundo, a Igreja não está sugerindo que a natureza humana esteja corrompida. Ao contrário, a humanidade é capaz de fazer muito bem. Não obstante sintamos uma “tendência para baixo”, ainda mantemos o controle essencial sobre nossas decisões. Permanece a vontade livre. E – o que é mais importante – Cristo, nosso Redentor, venceu o pecado e a morte pela sua morte e Ressurreição. Essa vitória cancelou não apenas nossos pecados pessoais, mas também o pecado original e seus propalados efeitos. A doutrina do pecado original, portanto, entende-se melhor como um escuro pano de fundo contra o qual pode ser aplicada, fazendo contraste, a brilhante redenção adquirida para nós por Cristo, nosso Senhor.
 

Pecado Pessoal

Aos efeitos do pecado original deve-se acrescentar o pecado pessoal, o pecado cometido por um indivíduo. Pecamos pessoalmente toda vez que consciente e deliberadamente violamos a lei moral. Pelo pecado deixamos de amor a Deus. Desviamo-nos – ou até mesmo retrocedemos – da meta da nossa vida que é fazer a vontade de Deus.

Pecado mortal é a rejeição fundamental do amor de Deus. Por ele a presença da graça divina é retirada do pecado. Mortal, que dizer ?que causa a morte? .  Este pecado mata a vida e o amor divinos na pessoa que peca. Para que o pecado seja mortal, deve haver (1) matéria grave, (2) reflexão suficiente, e (3) pleno consentimento da vontade.

Pecado venial é uma rejeição menos séria do amor de Deus. Venial significa ?que se perdoa facilmente?.  O pecado é venial quando a falta não é grave, ou – se a matéria é grave – a pessoa não está suficientemente cônscia do mal existente, ou não consente plenamente o pecado.

O pecado venial é como uma doença espiritual que magoa mas não mata a presença da graça divina dentro da pessoa. Pode haver graus de gravidade no pecado, como as diferentes doenças podem ser mais graves ou menos graves. mesmo os pecados  menos graves não devem ser considerados levianamente. Pessoas que se amam não querem ofender uma à outra de maneira alguma, nem sequer do modo mais insignificante.

Para haver pecado, de qualquer gravidade, não é preciso que haja ações. Pode-se pecar por pensamento ou desejo ou por omissão de fazer algo que devia ser feito.

Deus perdoa  qualquer pecado – mesmo os mais graves – um sem número de vezes, se a pessoa está realmente arrependida.

Quem se considera em pecado mortal deve confessar tal pecado e reconciliar-se com Cristo e com a Igreja, antes de receber a Santa Comunhão (1 Cor 11, 27-28)
 

Pecado pessoal e mal social

Os padrões do mal podem ser institucionalizados.  Por exemplo, a injustiça pode vir a ser parte do modo de viver de um grupo, sendo incluída nas leis e nos costumes sociais.  Esses (padrões), numa reação em cadeia, contaminam as atitudes e ações das pessoas naquele ambiente.  A influência desses padrões pode ser tão sutil que as pessoas neles comprometidas podem efetivamente não ter consciência do mal que provocam.

O mistério do pecado original tem uma dimensão social, e a cooperação em padrões de pecado intensificam presença do mal no mundo.  Contribui para o sofrimento humano.  Por isso, o Vaticano li faz questão de enfatizar – especialmente durante o tempo penitencial da quaresma – “as conseqüências sociais do pecado” (Constituição Sacrosanctum Concilium, sobre a Sagrada Liturgia, nº  109).

Quem se associa ao mal institucional torna-se “parte do problema” – um descendente atuante do Velho Homem, Adão.  Quem resiste ou se opõe ao mal social torna-se “parte da solução” – alguém que vive da vida conquistada para nós pelo Homem Novo, Jesus Cristo.
 

A formação de uma consciência reta

Falando da dignidade dos seres humanos, diz o Vaticano li: “Na intimidade da consciência, o homem descobre uma lei que ele não impõe a si mesmo, mas o impele à obediência.  Chamando-o sempre a amar e fazer o bem e a evitar o mal, no momento oportuno a voz desta lei lhe soa nos ouvidos do coração: “faça isto”, “evite aquilo.  De fato, o homem tem uma lei escrita por Deus em seu coração.  Obedecer a ela é a própria dignidade do homem, que será julgado de acordo com esta lei.  A consciência é  o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem onde ele está sozinho com Deus e onde ressoa sua voz”. (Gaudium et Spes, n.’ 16).

Todos somos moralmente obrigados a seguir nossa consciência.  Mas isto não significa que esteja infalivelmente certo tudo quanto nossa consciência nos diz… Como diz o Vaticano li: “Não raro a consciência erra, por ignorância invencível” (ib., nº 16) – isto é, por uma ignorância pela qual a pessoa não é moralmente responsável.  Procurar formar uma consciência reta faz parte de nossa dignidade e responsabilidade.

Falando da consciência reta, afirma o Vaticano li: “Quanto mais prevalecer a consciência reta, tanto mais as pessoas e os grupos se afastam de um arbítrio cego e se esforçam por se conformar às normas objetivas da moralidade” (ib., nº 16).

Sobre o árduo tema de como formar uma consciência reta, o Vaticano II diz: “Na formação de sua consciência, os cristãos hão de ater-se à doutrina santa e certa da Igreja.  Pois, por vontade de Cristo, a Igreja católica é mestra da verdade e assume a tarefa de enunciar e de ensinar autenticamente a Verdade que é Cristo. Ao mesmo tempo, ela declara e confirma, por sua autoridade, os princípios de ordem moral, que promanam da própria natureza humana” (Declaração Dignitatis Humanae, sobre a Liberdade Religiosa, nº 14).

Nos assuntos pessoais de consciência, “atenha-se à doutrina santa e certa da Igreja”. Além disso, no núcleo secretíssimo e no sacrário” do seu coração onde você está “sozinho com Deus”, busque sua vontade.  Procure e você encontrara.

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