4. Deus, o Pai de Jesus

O livro do Êxodo traz uma das revelações mais profundas da história humana. Esta revelação é narrada na história do chamado que Deus dirigiu a Moisés para ele ser o líder de seu povo. Falando de uma sarça ardente que, “apesar de estar se queimando não se consumia”, Deus bradou: “Moisés, Moisés!” A seguir ordenou-lhe que reunisse os israelitas e persuadisse o Faraó a deixá-lo conduzir aquele povo escravizado para fora do Egito. Ao ouvir o plano divino, Moisés ficou apreensivo. E o diálogo continua: “Mas, – disse Moisés a Deus – quando eu for ter com os israelitas, e lhes disser: ‘O Deus de seus pais mandou-me a vocês’, se eles me perguntarem: ‘Qual o seu nome?’ que lhes responderei?” Deus replicou: “Eu sou quem sou”. E acrescentou: “Isto dirás aos israelitas”: “Aquele que É mandou-me a vocês”. E Deus disse a Moisés: “Então dirás aos israelitas: ‘O Senhor, o Deus dos seus pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacó, mandou-me a vocês…’ ” (Êx 3, 13-15).

Nesse diálogo (e em outros semelhantes, veja Jz 13, 18 e Gn 32, 30) Deus de fato não deu a si mesmo um “nome”. Recusa-se a dar uma “chave” que poderia fazer o povo pensar que tinha poder sobre Deus. Deus diz, com efeito, que Ele não é como um dos muitos deuses que o povo adorava. Ele se oculta, mostrando assim a distância infinita entre Ele e tudo quanto nós, seres humanos, tentamos conhecer e controlar.

Mas mandando a Moisés que dissesse “Aquele que É mandou-me a vocês”, Deus também revela algo muito pessoal. Esse Deus que “é”, que supera todas as realidades que passam, não está desligado de nós e do nosso mundo. Ao contrário, esse Deus que “é” revela que Ele está com vocês. Ele não diz o que Ele é em si mesmo. Ele revela, porém, quem Ele é para você. Nesse momento capital narrado no Êxodo (e explanado mais adiante no Livro de Isaías, cap. 40, 45), Deus revelou que Ele é o seu Deus, o “Deus de seus pais” – o insondável mistério que está com você para sempre, com você para além de todos os poderes da morte do mal.

O Deus que se revela no Antigo Testamento tem duas características principais. A primeira e mais importante, é que Ele está pessoalmente perto de você, que Ele é o seu Deus. A segunda é o fato de que este Deus que livremente procura um relacionamento pessoal com você está para além de todo tempo e espaço. EU SOU não está ligado a nada, mas liga todas as coisas a si mesmo. Com suas própias palavras, “Eu sou o primeiro e o último; fora de Mim não há nenhum Deus” (Is 44, 6)

Séculos após a revelação referida no Êxodo e em Isaías, o Deus misterioso da sarça ardente revelou seu nome – em Pessoa. Superando toda suposição e expectativa humana, a Palavra de Deus “se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14). Numa revelação que ofusca a mente com sua luz, Jesus dirigiu-se a EU SOU e disse: “Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti… Eu dei-lhes a conhecer o Teu nome, e dar-lhes-ei a conhecer ainda, para que o amor com que me amaste esteja neles e eu esteja neles” (Jo 17, 21.26)

EU SOU revelou Seu nome no Seu filho. A sarça ardente atrai você para a sua luz. O Deus de Moisés, revelado em Jesus, é amor, é Pai, está em você.

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