Doutrinas marianas – i

[N. do T.: todas as citações bíblicas em meus estudos, quando de versões estrangeiras – não pertencentes ao artigo original, são de minha tradução]

Este é um breve tutorial sobre o que católicos crêem sobre Maria. Muitos protestantes, que são críticos do catolicismo, alegam que os católicos adoram Maria, mas isto é incorreto.

Este artigo discute as várias doutrinas da Igreja católica sobre Maria, a mãe de Jesus.

Não é minha intenção provar estas doutrinas da Bíblia e Tradição. Na verdade, eu somente dou evidência que:

– Há apoio bíblico.

– Elas não contradizem a Bíblia.

– A mesma Igreja primitiva (antes das 200 d.C.) cria e praticou estas doutrinas pelo menos de uma forma rudimentar.

Neste artigo eu não vou discutir sobre doutrinas que os protestantes e católicos concordam, como o nascimento virginal de Cristo.

Jesus teve irmãos?

No versículo seguinte, é feita uma referência é aos irmãos de Jesus:

  • Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão? (Mc. 6.3)

A interpretação não-católica comum é que estes eram filhos de Maria. Porém, há dois versículos que refutam isto. Daí podemos concluir que Tiago e José não são irmãos de sangue de Jesus, nem são filhos da mãe de Jesus, Maria.

1. Mt. 27.56 – No relato sobre a Crucificação em Mateus encontramos uma Maria que é a mãe de Tiago e José.

  • entre elas estavam Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mulher de Zebedeu. (Mt. 27.56)

É improvável que esta Maria seja a mãe de Jesus porque se fosse ela seria identificada como tal.


Isto apóia a visão católica que Jesus não teve irmãos e que Maria permaneceu virgem por toda a vida. 

2. João 19:25 – No relato sobre a Crucificação de João aprendemos que havia outra Maria diferente da mãe de Jesus (não contando Maria Madalena). Esta terceira Maria é a irmã de mãe de Jesus.

  • E junto à cruz estavam a mãe de Jesus, e a irmã dela, e Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena. (João 19:25)

É improvável que os pais de Maria chamassem duas filhas pelo nome Maria mas aqui vemos duas irmãs chamadas de Maria. Este versículo demonstra que era a prática comum usar a palavra irmã para se referir a alguém diferente de uma filha da mesma mãe. De certa forma é razoável esperar que a palavra irmão seja usada para parentes diferentes de irmãos de sangue. 

Isto apóia a visão católica que Jesus não teve irmãos e que Maria permaneceu virgem por toda a vida. 


Maria nasceu sem pecado?

Os protestantes que são tipicamente críticos do atolicismo distorcem este ensino católico. A Igreja católica não ensina que:

– Maria foi uma divindade.

– Maria não teve necessidade de um redentor.

– Maria foi merecedora por si mesma deste dom da graça de Deus.

– Maria foi um novo tipo de humana, diferente do resto de nós.

Sobre a impecabilidade de Maria, a Igreja católica ensina que:

– sua impecabilidade foi um dom da graça de Deus.

– Ela recebeu a mesma graça que Eva tinha antes da Queda.

– Esta graça de impecabilidade foi possível como resultado do sacrifício remissório de Cristo. Somente foi aplicado à Maria antes dEle pagar o preço (assim como os santos do Velho Testamento foram redimidos pelo sacrifício de Cristo antes da Encarnação).

– Maria foi agraciada com impecabilidade por duas razões:

Assim ela seria preparada para criar Jesus corretamente, o Filho de Deus.

Assim ela seria um receptáculo adequado para Jesus, que era perfeito.

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Maria foi virgem por toda a vida? 

Em nossa cultura moderna nós temos um desdém pela virgindade consagrada pela vida. Mas este tipo de vida é apoiado pela Bíblia:

  • Quero que todos os homens sejam tais como também eu sou; no entanto, cada um tem de Deus o seu próprio dom; um, na verdade, de um modo; outro, de outro. E aos solteiros e viúvos digo que lhes seria bom se permanecessem no estado em que também eu vivo. O que realmente eu quero é que estejais livres de preocupações. Quem não é casado cuida das coisas do Senhor, de como agradar ao Senhor; (1 Cor 7.7,8,32)

A igreja tem uma longa tradição de virgindade consagrada.

Há uma escritura primitiva chamada de Protoevangelho de Tiago, que foi escrita cerca de 150 d.C. que declara que Maria foi virgem por toda a vida:

  • E o sacerdote disse a José: Tu foste escolhido para cuidar da virgem do Senhor. Mas José recusou e disse: Eu tenho filhos, e eu sou um homem velho, e ela é uma jovem. (Para 9)

É interessante que havia um interesse sobre este tema nesta época primitiva.

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A devoção a Maria é uma invenção moderna? 

Os protestantes que são tipicamente críticos do Catolicismo representam a devoção a Maria como uma invenção moderna. Porém, já apareceu muito cedo na história de Igreja. Eu darei alguns exemplos para demonstrar isto.

Há uma escritura primitiva chamada de Protoevangelho de Tiago, que foi escrita cerca de 150 d.C. e tem como subtítulo O Nascimento de Maria, Santa Mãe de Deus, e a Gloriosa Mãe de Jesus Cristo. Conta a história de Maria, que foi dedicada por seus pais para o serviço vitalício como uma virgem no templo:

  • Eu a trarei [a criança Maria] como um presente para o Senhor meu Deus; e ela O servirá nas coisas santas todos os dias de sua vida. (Para 4)

Até mesmo a própria Bíblia contém uma passagem que dá o tom para a devoção católica para Maria.

  • Viu-se grande sinal no céu, a saber, uma mulher vestida do sol com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça, que, achando-se grávida, grita com as dores de parto, sofrendo tormentos para dar à luz. Nasceu-lhe, pois, um filho varão, que há de reger todas as nações com cetro de ferro. E o seu filho foi arrebatado para Deus até ao seu trono. (Ap. 12.1,2,5)

O significado literal claramente se refere à Maria e fala dela em condições exaltadas.

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Este tópico é realmente significante? 

As doutrinas católicas de Maria são firmemente integradas com outras doutrinas chaves, porém, elas não são centrais à mensagem do Evangelho da salvação. Mesmo assim, isto não significa que elas são sem importância, pois elas aumentam grandemente a vida devota e espiritual dos católicos.

Muitos protestantes fundamentalistas pensam que a unidade com católicos só é possível se os católicos deixarem as doutrinas de Maria, mas para os católicos isso é impossível. Seria como pedir aos fundamentalistas que deixassem suas doutrinas sobre o milênio.

É irônico que a primeira geração de reformadores tinha uma devoção à Maria e que isto não foi uma de suas objeções ao Catolicismo. Mas as gerações posteriores acrescentaram as doutrinas de Maria a sua lista de diferenças com o Catolicismo.

O significado primário das doutrinas sobre Maria na guerra católico-protestante é que os protestantes que são críticos do Catolicismo não compreendem bem o escopo. Como eu demonstrei em outro artigo há amplo apoio bíblico para elas e, então, é errado declarar que qualquer um que as aceita é um herege. Os ofensores deveriam deixar de usar isto para gerar divisão desnecessária dentro do corpo de Cristo.

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Imaculada Conceição

Segundo o Catecismo da Igreja católica, Maria foi “redimida desde o momento de sua concepção” (CIC 491) e foi “preservada imune de toda a mancha do pecado original” (CIC 491).

Pela graça de Deus, Maria teve a graça de ser livre do pecado original, que afetou todos os seres humanos pela transgressão de Adão e Eva.  Esta graça especial “vem inteiramente de Cristo” (CIC 492).

Alguns equívocos sobre o ensino católico:

  • Que Maria é uma deusa.
  • Que Maria é a fonte de sua impecabilidade.
  • Que isto contradiz a passagem que todos pecaram. (Rm.3.23; 5:12)

Respostas para estas objeções – o que a Igreja católica ensina:

  • Que Maria NÃO É uma deusa. Aqueles que afirmam que ela é uma deusa ou que os católicos a adoram estão distorcendo os ensinos da Igreja católica.
  • Que a impecabilidade de Maria foi lhe dada por Deus como um dom. Maria é um ser humano criado. É seu papel como mãe de Cristo que a faz especial.

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Mãe de Deus 

Esta doutrina é muito fácil de explicar:

  • Jesus é Deus.
  • Maria é a mãe de Jesus.
  • Então, Maria é a mãe de Deus.

Apesar da conclusão óbvia, muitos protestantes que são críticos do Catolicismo objetam a esta doutrina.

Os católicos têm uma perspectiva interessante da divindade de Jesus. A maioria dos protestantes realmente não pensa muito em Jesus senão até depois que Ele começou Seu ministério aos 30 anos. Eles pensam nEle desde o nascimento mas O consideram somente como uma criança que se desenvolveu a seu potencial completo. E sim, eles admitem que Ele foi divino desde o nascimento mas só adoram Jesus como um adulto.

Para os católicos, a Anunciação (a concepção de Cristo no útero de Maria) é o evento mais significante. Naquele momento a Palavra de Deus assumiu a natureza humana e desde aquele momento Jesus já foi merecedor de nossa adoração. Além disso, Ele deve ser adorado em todas as fases de Sua vida – como um gameta unicelular; como um feto; como uma criança recém-nascida; como um garoto de 12 anos; e como adulto.

Há fortes ensinos católicos que se relacionam fortemente ao menino Jesus. O Rosário dedica 25% da oração a Jesus antes da maioridade. Em relação a Jesus no contexto da família terrestre naturalmente nós passaremos tempo com Sua família – com Maria e José. A maioria dos protestantes, porém, pensa em Jesus como um único homem sem qualquer conexão familiar. Mas Jesus, o Filho de Deus, gastou pelo menos metade de Sua vida dentro do contexto familiar. Certamente, deveríamos relacioná-lo neste contexto.

Como Jesus é Deus e assumiu a natureza humana da carne humana de Maria, ela é a Mãe de Deus de um modo concreto. Negar Maria como a mãe de Deus é negar que a natureza carnal de Jesus era Deus da mesma maneira que Sua natureza divina. Este foi o erro dos gnósticos e outros que negaram que Deus assumiu a natureza humana como Sua natureza.

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Virgindade perpétua 

Esta é a doutrina que Maria foi virgem a vida inteira.

Uma objeção comum a esta doutrina pelos protestantes é enfocar na palavra “até” na seguinte passagem.

  • E não a conheceu até que ela não deu à luz seu filho de primogênito: e lhe pôs o nome de JESUS. (Mt. 1:25)

A objeção é que a palavra “até” implica que “depois” do o nascimento de Jesus, Maria teve outros filhos. Mas o seguinte versículo demonstra que usar a palavra “até” deste modo não é bíblico.

  • Para evitar que sejais convencidos, irmãos, eu não desejo ter um mal-entendido deste segredo revelado, que a insensibilidade temporária só veio a Israel até a quantidade de gentios nela estar completa. (Rom 11:25 – NT de Williams)

Interpretando a palavra “até” desta maneira implicaria que quando se chegasse a abundância dos gentios, então a cegueira de Israel seria removida.

Interpretando a seguinte passagem com este uso da palavra até nós teríamos dizer que depois do céu e terra passarem, então a lei já não será válida.

  • Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. (Mt. 5.18)

E devemos entender deste versículo seguinte que uma vez que Jesus retorne para o Juízo então Ele quebrará uma cana contundida?

  • Ele não quebrará a cana contundida, ele não apagará o linho queimando, até levar a religião para a vitória. (Mt. 12.20 – Moffatt)

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Assunção

Por que não é chocante:

  • Elias, Enoque
  • Crentes do AT que foram redimidos no futuro pela obra de Cristo

A doutrina da Assunção de Maria declara que quando foi tempo por Maria deixar esta terra ela foi levada completamente ao céu. A maioria dos fundamentalistas considera que isto é uma idéia chocante. Mas não é tão chocante assim que analisar o seguinte:

  • Elias e Enoque foram levados ao céu de uma maneira muito incomum.
  • Todos os crentes vão um dia receber corpos ressuscitados e entrar no céu. Maria somente desfruta com antecedência deste benefício.
  • (N. do T.: talvez mais chocante ainda seja a idéia estapafúrdia do arrebatamento como expresso por Tim LaHaye no filme “Deixados para Trás”, onde as pessoas já estão sendo arrebatadas antes da vinda de Cristo)

Há referência a esta doutrina em 400 d.C. em um escrito sobre a Assunção de Maria. Alguns trechos dizem o seguinte:

  • Tua assunção será depois de três dias…. Cristo desceu com uma multidão de anjos, e recebeu a alma da amada mãe…. O santo corpo foi levado pelos anjos ao céu.

Nota que isto foi escrito aproximadamente na mesma época em que a doutrina da Trindade e o cânon das Escrituras foram finalizados.

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Mediadora e Co-Redentora 

Maria tem um papel na redenção por sua cooperação com o plano de Deus concordando em ser a mãe do Messias. Neste sentido ela é a redentora da humanidade. Se ela tivesse recusado o chamado de Deus não teria havido um redentor. Isto não diminui o papel de Cristo como redentor.

Mediadora, co-Redentora – o prefixo co- não significa igual com Deus. Na verdade, significa que a Maria foi dado um papel no qual ela participa no plano de redenção de Deus.

Uma analogia – Se alguém compartilha o Evangelho com você e você é salvo como resultado, aquela pessoa de certo modo é sua redentora. Mas ao chamar esta pessoa que nos deu o Evangelho de “nosso redentor” não significa que estamos lhe atribuindo uma divindade, mas que na verdade suas ações contribuíram a nossa redenção e que nós não teríamos sido salvos sem seu envolvimento. Assim, o acordo obediente de Maria para ser a mãe de Deus forneceu a possibilidade de redenção para toda a humanidade. Neste sentido, Maria é a redentora da mesma maneira que uma pessoa que compartilha o Evangelho é uma redentora.

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Devoção para Maria 

A devoção a Maria já pode ser encontrada nos escritos dos Pais de Igreja primitiva desde uma data bem antiga, já em 200 d.C. Os protestantes afirmam que é uma invenção muito moderna da Igreja católica, mas este não é o caso. Até mesmo os reformadores protestantes tiveram uma devoção à Maria.

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Nova Eva

Da mesma maneira que Eva, por sua desobediência, fez a humanidade perder sua graça da liberdade do pecado original, assim Maria, como a Nova Eva, por sua obediência permitiu o Redentor ter acesso ao mundo. Esta doutrina aparece nas escritos dos Pais da Igreja primitiva:

  • Ele se tornou o homem pela Virgem, para que a desobediência que procedeu da serpente pudesse receber sua destruição da mesma maneira na qual derivou sua origem. Pois Eva, que era virgem e imaculada, tendo compreendido a palavra da serpente, produziu desobediência e morte. Mas a Virgem Maria recebeu fé e alegria, quando o anjo Gabriel lhe anunciou as boas-novas de que o Espírito do Senhor viria sobre ela, e o poder do Altíssimo a protegeria: portanto também o Santo nascido dela é o Filho de Deus; e ela respondeu: “faça-se em mim segundo a Tua Palavra”. (Diálogo com Trifão, Justino Mártir, cap. 100, 100-165 d.C.)

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Mãe da Igreja 

A lógica disto é o seguinte:

  • Maria é a mãe de Jesus.
  • Os crentes em Cristo são o corpo de Cristo – e esta é uma realidade mística, não somente um símbolo.
  • A Igreja é este corpo de Cristo.
  • Portanto, Maria é a mãe da Igreja.

Negar esta conclusão é afirmar um dos seguintes:

  • Que a frase corpo de Cristo é somente uma figura de linguagem e não tem nenhuma realidade concreta, ou
  • Que a Igreja não é o corpo de Cristo.

Esta é uma área na qual os protestantes que são tipicamente críticos do Catolicismo não consideraram as conseqüências de sua visão anti-mariana.

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Imaculado Coração

Esta é uma devoção católica na qual o coração físico de Maria simboliza seu amor  por Jesus.

Tipicamente, os protestantes que são críticos do Catolicismo não têm nenhum entendimento sobre devoção mística, meditativa e oração contemplativa e assim o tópico do Coração Imaculado de Maria é difícil para eles entenderem. Eles vão perguntar: “onde está isso na Bíblia” como se essa fosse a única questão necessária para toda a discussão.

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