Eficácia sobrenatural dos rituais amazônicos?

  • Autor: Néstor Martínez
  • Fonte: http://www.infocatolica.com/blog/praeclara.php/
  • Tradução: Carlos Martins Nabeto

No n° 87 do Instrumento de Trabalho para o próximo Sínodo da Amazônia (…), podemos ler o seguinte:

“87. Os rituais e as cerimônias indígenas são essenciais para a saúde integral, pois compõem os diferentes ciclos da vida humana e da natureza. Criam harmonia e equilíbrio entre os seres humanos e o cosmo. Protegem a vida contra os males que podem ser provocados tanto por seres humanos como por outros seres vivos. Ajudam a curar as doenças que prejudicam o meio ambiente, a vida humana e outros seres vivos” (todos os grifos são nossos).

Além de tudo o que nos é apresentado como alarmante neste Sínodo – no qual medidas poderão ser tomadas para o fim do celibato sacerdotal obrigatório, bem como para [instituir] o sacerdócio feminino -, este parágrafo atribui eficácia real aos rituais e cerimônias indígenas.

Isso já seria o suficiente, mas surge a questão: de qual fonte revelada vem essa afirmação? Da Bíblia, da Tradição?

Por outro lado, se essa eficácia real existe, qual seria a sua causa? Natural ou sobrenatural? Não parece ser natural, nem parece que a ciência tenha alguma hipótese explicativa. Por outro lado, se é sobrenatural, só pode ser divino, angélico ou demoníaco. Como podemos ver, é de vital importância saber, em qualquer caso, qual dos três seria, ou, em última instância, quanto aos dois últimos.

Se se responde que, dados seus bons efeitos, a causa não pode ser demoníaca – deixando passar essa afirmação que absolutamente não poderia ser feita, porque o diabo pode muito bem nos dar bens temporários em troca da nossa condenação eterna – o fato é que voltamos ao mesmo ponto: qual é a fonte revelada para essa afirmação? Onde aparece nas Escrituras ou na Tradição da Igreja que os rituais dos índios amazônicos têm essa eficácia devido à ação de Deus ou dos seus anjos?

De fato, a atitude tradicional da Igreja em relação a esses rituais tem sido, no mínimo, de extrema desconfiança, a começar pelo ditado patrístico: “Omnes dii gentium daemonia – Todos os deuses dos gentios (pagãos) são demônios”.

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O que reproduzimos abaixo, copiamos do seguinte site: http://atodomomento.com/nacionales/enterate-significa-maldicion-dabucuri/

Guarulla lançou a maldição de Dabucurí contra Maduro

Nesta terça-feira, o governador do Amazonas lançou uma maldição xamânica contra os responsáveis ​​por sua inabilitação política. O feitiço foi feito durante uma conferência de imprensa.

‘Eles não vão morrer sem tormento. Antes de morrerem, eles sofrerão e suas almas percorrerão os lugares mais sombrios e pestilentos antes que possam fechar os olhos’, foram as palavras de Liborio Guarulla, governador do Amazonas, quando se referiu àqueles que o inabilitaram politicamente por 15 anos.

Agitando uma pequena maraca adornada com plumagem preta e marrom, Guarulla lançou essa maldição que é muito popular na floresta amazônica .

Não é a primeira vez que um político venezuelano ameaça com uma maldição. No passado, o presidente Nicolás Maduro ameaçou o eleitorado, [afirmando] que a maldição do Maracapana viria sobre aqueles que não votaram nele.

Em que consiste realmente esta maldição?

1) Na floresta amazônica, que abrange Venezuela, Brasil, Colômbia e Peru, os povos indígenas que a habitam, dão a certo ritual especial sagrado e poderoso o nome de Dabucurí.

2) É conhecido como uma longa e especial cerimônia tradicional de integração entre os diferentes grupos étnicos.

3) O festival cerimonial do Dabucurí é caracterizado pelo traje marcante e pelos ornamentos rituais que homens e mulheres usam para aproveitar esta ocasião especial.

4) A coisa mais importante nessa cerimônia é que danças são oferecidas e comidas, frutas e bebidas são ofertadas aos antepassados ​​com vistas a ter muita fartura e prosperidade.

5) Segundo a tradição xamânica, quando este ritual é lançado sob a forma de uma maldição, todos os que a recebem não terão prosperidade, serão despidos de sua riqueza e sua vida será inundada de dor e tristeza.

6) Todas as mulheres se dedicam a preparar chicha, mas primeiro elas precisam ir ao chagra, colher mandioca e inhame; faltando 8 dias para o Dabucurí, o processo torna-se mais caro porque precisam cozinhar os materiais por vários dias e depois fermentar por mais quatro dias em um recipiente chamado cachirí.

7) Participam do Dabucurí idosos, adultos, jovens que viveram a festa nos anos anteriores, crianças acima de 12 anos, mulheres e crianças menores de idade.

8) As mulheres são responsáveis ​​por preparar a maior quantidade de comida e bebida possíveis para oferecer e compartilhar durante o ritual.

9) Nas declarações de Guarulla, em que lança um feitiço contra aqueles que o inabilitaram, disse: ‘Eles não vão morrer sem tormento. Antes de morrerem, eles sofrerão e suas almas percorrerão os lugares mais sombrios e pestilentos antes que possam fechar os olhos’.”

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Sendo assim, não nos parece apropriado que um documento da Igreja reconheça e elogie a eficácia de tais rituais. Se os supostos “bons efeitos” desses rituais foram usados ​​como argumento para a sua origem divina, que conclusão deveria ser tirada das maldições que também fazem parte deles?

Por outro lado, um conceito tão pomposo quanto “saúde integral” também inclui saúde espiritual ou então não percebemos de onde vem esse “integral”.

Pois bem: a saúde espiritual, sabemos pela nossa Fé, só é possível pela graça santificadora que deriva do sacrifício de Cristo na cruz.

À “saúde integral”, portanto, seriam essenciais os rituais e cerimônias indígenas. E disto se seguiriam várias conclusões:

Em primeiro lugar, nós que não participamos desses rituais, não poderíamos ter saúde integral.

Num sentido muito bom, interpretaríamos que para a saúde ser “integral” seria necessária não apenas a saúde da alma, mas também a do corpo, e que para esta última somente os rituais amazônicos seriam essenciais. De qualquer forma, não poderíamos ter, então, a saúde do corpo até que participássemos dessas cerimônias. Deveríamos avisar os médicos!

Num sentido não muito bom, esses rituais também seriam essenciais para a saúde espiritual, que incluiria o dom da graça santificadora, e disso se seguiria que não apenas esses rituais produziriam a graça “ex opere operato” – ao contrário do que diz a “Dominus Iesus” -, como também e infelizmente estaríamos privados dessa graça por não termos participado até agora dessas cerimônias.

Com efeito, é surpreendente que esses absurdos estejam logicamente envolvidos no “Instrumentum laboris” de um Sínodo de Bispos.

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NOTA DE ESCLARECIMENTO DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

O Sínodo dos Bispos é uma assembleia de Bispos que, escolhidos das diversas regiões do mundo, reúnem-se em determinados tempos para promover a estreita união entre o Romano Pontífice e o Episcopado, para auxiliar o Romano Pontífice com seu conselho, na preservação e crescimento da fé e dos costumes, na observância e consolidação da disciplina eclesiástica e, ainda, para examinar questões que se referem à ação da Igreja no mundo (CDC 342).

A Constituição Dogmática “Episcopalis Comunio”, do Santo Padre, o Papa Francisco, no art. 1º define os tipos de assembleia possíveis. Mais precisamente no parágrado 2º, o item 3º diz que o Sínodo pode consistir “em Assembleia Especial, se se tratam de assuntos concernentes principalmente a uma ou mais áreas geográficas concretas” (CDC 345): este é exatamente o caso do Sínodo dos Bispos para a Amazônia.

O Sínodo é antecedido, porém, por um documento preparatório e um Instrumento de Trabalho (Instrumentum Laboris), ambos preparados pela Secretaria do Sínodo dos Bispos, um órgão da Santa Sé. Embora sejam documentos oriundos dos órgãos vaticanos, não fazem parte do Magistério Eclesial, seja Ordinário ou Extratordinário; são apenas documentos que pretendem orientar as Sessões do Sínodo e podem até mesmo ser desprezados total ou parcialmente pelo Romando Pontífice, como ocorreu por ocasião da realização do Concílio Vaticano II.

Desta forma, quando criticamos respeitosamente o conteúdo desses documentos anteriores à realização do Sínodo, não estamos agindo como juízes do Sagrado Magistério e, muito menos, do Santo Padre o Papa; estamos apenas exercendo o nosso DEVER de fiéis em zelar pela Fé Católica, exortando-nos mutualmente para o Bem de toda a Santa Igreja (cf. Hebreus 3,13-15).

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