Eis o que diz o Senhor, teu Redentor, o Santo de Israel: Eu Sou o Senhor teu Deus, que te dá lições salutares, que te conduz pelo caminho que deves seguir. Ah! Se tivesses sido atento às minhas ordens! Teu bem-estar assemelhar-se-ia a um rio, e tua felicidade às ondas do mar. (Isaías 48, 17-18)
Conhecemos a Deus quando guardamos seus mandamentos, pois quem diz conhece-Lo e não os guarda é mentiroso e a verdade não está nele, nos diz São João. Portanto, conhecer a Deus não constitui uma atividade meramente intelectual, mas algo concreto e real: consiste em estar unido a Ele pela fé e pelo amor – ou seja, pela graça – pois quem O conhece, o amor de Deus alcançou sua perfeição e este deve necessariamente permanecer nEle.
Quem deseja seguir o caminho santo, conhecendo a Deus que é este caminho, deve compreender primeiramente que Deus é o autor da vida, que é Aquele que a rege, e que portanto, sabe exatamente por onde devemos caminhar para não nos perdermos. Os mandamentos são as setas, as regras de conduta que devemos ter para caminharmos na luz e termos a vida, – em abundância aqui -, e a eterna, quando chegar nosso momento derradeiro.
Ora, todo homem tem e sente dentro do seu coração uma lei gravada por Deus, que o faz distinguir o bem e o mal, o honesto do torpe, o justo do injusto; os mandamentos agem nele, para os direcionar para o bem, para a justiça e para o que é honesto.
Dentro deles se encerra nossa salvação, e isto deve ser causa de louvores. Desprezar os mandamentos é desprezar à Deus, e em última análise é desprezar a vida que Ele nos oferece. Humildade e pureza devem ser a mola que nos move, pois por eles, – os mandamentos -, receberemos prêmios eternos ou penas previstas pela justiça divina. Por eles, reconhecemos os caminhos do Senhor, sua santíssima vontade, para assim dirigir nossos passos em Sua direção.
É verdadeiro sábio quem teme a Deus e segue seus caminhos e por conta desta obediência e solicitude, terá como galardão, nesta e na outra vida, verdadeiras alegrias, conhecimento dos mistérios divinos, além de muitos gozos e prêmios. O sábio é aquele que ama de fato, e por amar, deve obedecer não tanto pelos seus interesses, mas por amor e atenção à Deus e para Sua glória, que é o motivo pelo qual fomos criados. Na verdade, Deus poderia nos obrigar a servir à Sua glória sem nenhuma recompensa, mas como Sua liberalidade e clemência é enorme, ainda nos cumula delas.
Portanto, guardar os mandamentos não só nos traz bençãos tanto temporal, quanto nos traz bençãos espirituais, ou seja, teremos uma larga recompensa no céu (Mt 5,12)
Feliz o homem que respeita o Senhor e que ama com carinho a sua lei! Sua descendência será forte sobre a terra, abençoada a geração dos homens retos! Ele não teme receber notícias más: confiando em Deus, seu coração está seguro. Seu coração está tranquilo e nada teme, e confusos há de ver seus inimigos (Salmo 111).
Deus nos deu a liberdade, mas esta deve nos levar a reconhe-LO como soberano sobre todas as coisas. Para sermos de fato livres, precisamos aprender a se-lo e com certeza, não é nos eximindo das ordens dadas por Ele. A verdadeira independência e liberdade consiste em me desvincular daquilo que me prende ao erro, por uma liberdade interior que é aquela que me desagarra do mundo e dos bens materiais, da busca do ter, do prazer, do ser. As ordens, as prescrições nos darão sabedoria para adquirir a independência espiritual. Portanto, os mandamentos não nos limitam, antes nos fazem crescer para a docilidade e para o equilíbrio.
São João também nos diz que Deus é amor e toda Sua Revelação feita a nós é prova deste amor. Ele nos fez à Sua imagem, portanto, nos fez capazes do amor, não só de amar mas capazes do Seu amor. Por isso o Senhor considerou o amor como mandamento supremo: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.
Dei servir regnare est – diz a máxima latina – “Servir a Deus é reinar”. Tudo em nós deve estar disposto de forma que cumpramos nossos ideais eternos, que deve ser sempre objeto de nossas delícias e busca. Os mandamentos, aparentemente parecem nos prender, mas não prejudicam nossa liberdade, muito pelo contrário, ajudam a garantir a elevação de nossa alma para as alturas.
“Prendem-se as hastes da videira a uma estaca, não para entravar a sua liberdade, mas para assegurar a boa orientação do seu crescimento”. Disse o poeta Weber.
“À sujeição te faz livre!
olha a videira ligada:
foi atada a uma empa
pra crescer mais aprumada”. (Dreizehnlinden – extraído do livro Jovem de Caráter de Tihamer Toth – Quadrante)
É certo que a fragilidade da natureza pode impelir o homem a se considerar fraco para amar a Deus e cumprir suas leis, mas o Senhor que exige amor, nos dá forças para amar, pois, O amor do Pai foi derramado em nossos corações pelo Espírito que nos foi dado. O Espírito, que é efetivamente o amor do Pai e do Filho, nos transforma em pessoas capacitadas a amar e a obedecer, já que claramente nos ensina o caminho da vida e em como ele é o melhor bem a ser buscado.
Depois que Cristo morreu em nosso favor, não precisamos esmorecer na busca desta obediência, pois tudo se torna mais fácil para quem ama. A nova criatura que nasce em Cristo é totalmente capaz de crescer em obediência, pois é cheia de graça e somente nela, o homem em ordem à salvação, tem valor diante de Deus.
São Bernardo nos diz: Deus não podia exigir do homem nada que fosse mais justo, mais elevado e mais proveitoso” (Bernard. de diligendo Deo cap. I), o que nos faz entender que podemos obedece-LO para o nosso bem.
Santo Agostinho completa São Bernardo: “Quero que me digam, será impossível ao homem amar, repito, amar o bondoso Criador, o Pai amantíssimo? Ainda mais, amar a sua própria carne na pessoa de seus irmãos? Ora, quem ama…cumpre a lei” (Aug. serm. 47 de Sanctis; Rom 13,8)
Fica portanto, evidente, que a nova criatura é aquela que observa os mandamentos de Deus, pois quem ama – e só ama de fato quem está cheio da graça -, guarda Sua palavra. “Pode o homem justificar-se, e de ímpio que era, tornar-se justo, antes de haver cumprido, por atos externos, cada um dos preceitos da Lei; mas, tendo já a idade da razão, não é possível que, de ímpio, se torne justo, sem estar intimamente disposto a guardar os mandamentos de Deus” (Catecismo Romano I. Dos preceitos Divinos 9, pag. 385)
Não importa se há recompensa ou não, não importa se há uma ordem ou não, o que importa é se tenho amor e se o tenho, faço, obedeço. E nada me é mais prazeroso. Ser livre para obedecer é o que faz uma pessoa feliz, pois sabe que o caminho que trilha é certo e santo.
O Papa João Paulo II, confirma isso na Encíclica O Esplendor da Verdadae: “É o amor que nos faz cumprir os mandamentos ou é cumprir os mandamentos que nos faz nascer o amor? Quem duvida que o amor precede a observância? Quem, de fato, não ama, está privado de motivações para cumprir os mandamentos. Jesus ensina as Leis de Deus de modo a interiorizar e a radicalizar as suas exigências: O amor ao próximo nasce de um coração que ama e, exatamente porque ama, está disposto a viver as mais elevadas exigências.”
As Sagradas Escrituras deixa claro que o mandamento, por si só, não foi suficiente para conseguir fazer o homem agradar a Deus. Deus precisou infundir o Espirito Santo no coração do homem para este se sentir motivado a romper com o pecado e viver no amor. Por ser o Espirito Santo “o amor de Deus que foi derramado em nossos corações”, Ele nos ajuda e nos capacita a amarmos e vivermos santamente para o Senhor.
Como não pode haver fé sem obras, é preciso receber com docilidade toda revelação, para que possamos identificar nossa vida com a de Cristo. Nesta identificação, devemos nos conformar com Ele para estarmos cada vez mais aptos para seguir o caminho que é estreito, mas santo.
São Próspero nos diz: “Caminhar como Ele caminhou, que outra coisa é senão abandonar as comodidades que Ele abandonou, não temer as contrariedades que Ele suportou, ensinar o que Ele ensinou (…), continuar a fazer o bem também aos desagradecidos, orar pelos inimigos, ter misericórdia com os perversos, suportar com ânimo equânime os vaidosos e soberbos”? (De vita contemplativa, lib II, cap 21)
Sabemos nós que todo homem depois do pecado das origens, ficou propenso a cometer pecados e por consequência, quebram a todo instante as regras básicas de viver de acordo com as leis divinas, que são retas e santas. Por causa da enorme malícia dos pecados e por causa desta propensão, em cada um dos mandamentos se acrescenta uma penalidade. Toda lei induz os homens, por meio de prêmios e castigos, a observarem as suas determinações.
É por isso que muitas vezes nos deparamos nas Sagradas Escrituras, com tantas promessas e acusações, da parte de Deus. Jesus nos disse: Quem quiser entrar na vida, observa os mandamentos, e eles não são penosos. De fato, para aqueles que são guiados pelo Espírito Santo, após seu batismo, toda penalidade parece mais que um estímulo para rejeitar o mal e buscar solidamente o bem. Longe de nos constranger, nos convida a caminhar sempre adiante, sempre nos reconhecendo pequenos, fracos, mas fortes em Deus, que é e sempre será fiel. Buscamos rejeitar o pecado por amor à Deus e não por medo do castigo. O que nos atrai é o amor e não o medo, por isso, o cristão tem paz em Deus.
Infelizmente, os homens carnais que não entendem o chamado, acham tudo muito duro e difícil. Mas é preciso que pelo conhecimento, reconheçam que podem trilhar pelas vias de Deus e que serão a partir daí, livres para uma vida nova em Cristo.
Que o Senhor aplicará as penas e os prêmios isto é fato, já que Ele é perfeito, santo e sem sombra de fraquezas e injustiças. Portanto, tanto os carnais quanto os espirituais, receberão a paga devida a seus atos.
Assim dizia David: Para onde irei longe de Vosso Espírito? Para onde fugir afastado de Vosso olhar? (138,7). Não é nada inteligente desconfiar das promessas divinas, elas serão cumpridas naquele que se pauta pelo caminho santo e reto, assim como receberá os castigos devidos à toda desobediência. Por isso é preciso fortalecer o passo e tomar a feliz decisão de correr para o combate proposto sem subterfúgios, com uma fé firme que não vacila diante dos obstáculos, para chegar a termo que é ser realmente feliz, livre e santo já nesta vida e receber o prêmio eterno que é ver a Deus.
Não é para qualquer direção que devemos caminhar, mas para aquela que nos leva a meta proposta, que definitivamente se deseja alcançar porque merece ser alcançada. Existem determinadas regras para a felicidade e para conservá-la uma vez encontrada. A vida tem suas leis e se não forem observadas, podem redundar na sua perda. Para viver em Deus temos regras a cumprir e toda transgressão a elas incorre em consequências, muitas vezes funestas. Não podemos nem ignorá-las e muito menos nos irritar com elas, antes conhece-las para buscar vive-las para ter a vida. Assim são os mandamentos de Deus, caminho certo e seguro para viver nEle e para Ele, para ter uma vida abundante, reta e sobretudo feliz e livre.
Deus é um Deus zeloso de Seus direitos, apesar de muitos quererem que Ele não cuide das coisas humanas, mas como Ele não possui nenhuma sombra de instabilidade, tudo rege com amor e zelo. Apesar disso, Deus não permite a alma quebrar impunemente a fidelidade para com Ele. Nos diz o salmista Sl 72,27: Sim. Perecem aqueles que de Vós se apartam, destruís os que procuram satisfação fora de Vós.
Seu zelo consiste naquela puríssima justiça que é repudiada pela alma que se corrompe por falsas doutrinas e por paixões desordenadas, ficando ela repudiada e excluída das núpcias com Deus. Por isso é tão importante darmos glórias devidas a Ele, para que possamos como Cristo, nosso modelo, amar este pai zeloso, obedecer suas leis e ainda zelar pelas suas coisas. Tal como Cristo, possamos dizer: o zelo por tua casa me consome
Como um Pai Deus corrige os seus, mas não deixará impune o infrator. Quando as Escrituras diz que O Senhor amaldiçoará até a e terceira ou quarta geração, não quer dizer que todos os descendentes paguem indistintamente pelas culpas de seus antepassados, mas que nem toda posteridade poderá evitar a cólera de Deus.
São Gregório nos ajuda a conciliar as palavras da lei que diz ser amaldiçoado as gerações pelos pecados dos antepassados com as de Ez 18,4b quando o mesmo Deus nos diz que é o pecador que morrerá. Quem imita a ruindade do pai, que é mau, envolve-se também em seu pecado. Mas quem não imita a ruindade de seu pai, de modo algum responde pelo delito eu o pai tenha perpetrado. Daí resulta, como conseqüência, eu o mau filho de um pai perverso deve sofrer não só pelos pecados que ele mesmo cometeu, mas também pelos pecados de seu pai. Pois, sabendo que os pecados de seu pai provocaram indignação de Deus, não se intimidou de acrescentar-lhe ainda a sua própria maldade. Se alguém, à vista do juiz inexorável, não teme prosseguir nos caminhos de seu pai perverso, é de justiça que, ainda nesta vida, seja forçado a expiar também as culpas de seu pai transviado (Greg. Magno Moral 25 23)
Nunca podemos nos esquecer que a misericórdia de Deus vai além de sua justiça, tanto é verdade que Ele abençoa e usa de misericórdia até a milésima geração com aqueles que O amam e guardam os seus mandamentos ( Ex 20,5-6) Este prêmio é realmente muito estimulante, já que amamos os nossos e queremos tanto o seu bem!
Feliz daquele que ama a Deus, que teme o Senhor, este é o caminho da sabedoria, porque pauta sua vida em se comprazer neste amor e em tudo se sujeitar à sua santa vontade.
Queridos, nossa meta é o Céu, somos cidadãos do Alto, por isso busquemos a todo custo a vida santa, na obediência amorosa aos mandamentos do Senhor, para que um dia possamos dizer como São Paulo: Eu te conjuro em presença de Deus e de Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, por sua aparição e por seu Reino:[ ] Quanto a mim, estou a ponto de ser imolado e o instante da minha libertação se aproxima, Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos aqueles que aguardam com amor a sua aparição”. (II Tim 4,1.6-8).