Manifesto leigo

Senhores Bispos, Reverendíssimos Padres:

Temos fome! Temos fome, temos sede.

Não, nossa fome não é de comida ou salário, ou ao menos não é isso que queremos dos senhores. Temos fome da Verdade, temos fome daquilo que fez com que tantos e tantos Santos abandonassem suas casas, abandonassem suas vidas, e freqüentemente fossem – felizes! – ao encontro da morte no martírio.

Não nos interessa a globalização; o neoliberalismo não é o inimigo a combater, ao menos não dentro da Igreja.

Tantos Santos, em tantos séculos, entregaram suas vidas a uma Verdade que está muitíssimo além dos benefícios desta ou daquela política, de um ou de outro sistema de governo, de determinações ministeriais, propriedades de terra, definições salariais e outras coisas passageiras.

Coisas passageiras, temo-las aos montes por toda parte. Temo-las, conhecemo-las bem e sabemos, Senhores Bispos e Reverendíssimos Padres, que elas passam! Passam e desaparecem, substituídas por outra coisa passageira, depois por outra, outra e mais outra.

Não queremos política, não queremos que a Igreja seja partido, sindicato ou qualquer outro centro de atividade materialista e dedicada às coisas passageiras. Estas instituições já existem, e não é imitando-as e emulando-as que a Igreja poderia jamais parecer digna de seu Esposo.

Tampouco queremos, Senhores Bispos, Reverendíssimos Padres, que a Igreja seja uma mera imitação de segunda categoria de tudo o que há de mais mundano no mundo que dela não participa. Não queremos, não precisamos de bandas de rock em torno do Altar para requebrarmos ao som do Glória. Não queremos, não precisamos de padres que lutam com cantores profanos por um lugar na parada de sucessos, esquecendo-se convenientemente de pregar a Verdade imortal e ministrar os Sacramentos que Nosso Senhor instituiu!

Queremos, Senhores Bispos, Reverendíssimos Padres, aquilo que a Igreja tem, aquilo que a Igreja sempre teve e terá, aquilo por que tantos e tantos mártires alegraram-se diante das chamas e das garras dos leões. Queremos a Verdade.

Queremos, Senhores Bispos e Reverendíssimos Padres, queremos como filhos de Deus, como membros do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja, aquilo que tantos e tantos de nossos irmãos têm ido buscar em antros de mentiras e heresias, onde não se a pode encontrar: a Verdade.

Queremos Deus. Queremos os Santos. Queremos nos colocar de joelhos diante da Virgem Santíssima e expressar como nossos antepassados expressaram antes de nós o mesmo amor e veneração por aquela que agora, em nome de uma falsa noção de aproximação com o povo, virou apenas “Maria”, virou apenas símbolo de sabe-se lá o quê.

Queremos os Sacramentos instituídos por Nosso Senhor como necessários à salvação de nossas almas. Queremos a Salvação, que só da Igreja podemos ter. Estamos, Senhores Bispos e Reverendíssimos Padres, humildemente colocados de joelhos diante de seus pés, implorando por pão, pelo Pão Vivo que desceu dos Céus, e não mais pelas pedras com que os senhores parecem ter prazer em nos alimentar.

Não queremos distrações, não queremos rebolados e ritmos novos; não queremos novidade alguma, pois sabemos que a Verdade é a mesma, ontem, hoje e sempre. Não queremos nada de novo, pois isso é o mundo que sabe fornecer, e a Igreja, ao tentar competir com o mundo pela sua mundanização, deixa de cumprir sua função de Igreja e torna-se apenas uma versão inferior do que o mundo já oferece.

Tampouco queremos “lutas” e bandeiras sociais. Não queremos que a Igreja se esqueça da Salvação das almas para trabalhar exclusivamente em benefício dos corpos. De nossos corpos, Senhores Bispos, Reverendíssimos Padres, podemos cuidar. De nossas almas, não. Precisamos da Igreja.

Se o neoliberalismo nos empobrecer, se a globalização nos transformar em colônias extrativistas dos países de primeiro mundo, talvez morramos. Se, porém, a Igreja perder o tempo curto e precioso de nossas vidas lutando contra mazelas geopolíticas nós não morreremos na graça de Deus, e Nosso Senhor cobrará dos senhores o cuidado de nossas almas que foi, ao que tudo indica, esquecido.

Queremos, Senhores Bispos e Reverendíssimos Padres, o Absoluto. Queremos a Santa Missa, a mesmíssima Missa que alimentou as almas de tantos Santos, de tantos mártires que por ela não viram problema algum em perder, pela inanição ou pelo brutal martírio, os seus corpos que um dia terão de volta.

Sabemos que há algo de errado. Sabemos que não foi por festivais de rock na beira da praia nem por luta por um salário mínimo de sabe-se lá quantos dólares que morreram tantos Santos. Sabemos que não foi nem o ritmo da bateria nem a sindicalização que inspiraram a vida em Cristo e a morte na Graça de milhares de Santos, que hoje nos observam do Céu.

Não temos, porém, mais acesso àquilo que eles tiveram. Vamos à Missa, e encontramos um festival de materialismos e festas de auto-celebração. Abraçamos uns aos outros e nos sentimos bem por alguns instantes. Balançamos os braços ao som da música ou brandimos carteiras de trabalho e sentimos que estamos fazendo parte de algo. Como é raso este algo, porém! Como isto é pouco, como isto é incapaz de motivar a ir mais além, incapaz de levar alguém a enfrentar sorrindo os leões!

O que nos falta? Falta-nos, Senhores Bispos e Reverendíssimos Padres, falta-nos Deus. Falta-nos o Absoluto. Falta-nos a Vida, a verdadeira e eterna Vida que só o Senhor que venceu a Morte pode nos dar. Falta-nos aquilo que a Igreja parece ter esquecido de nos dar: santificação, educação, governo.

Nós não fomos às seitas, nós não abandonamos a Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Não estamos alegremente pagando dízimos e mais dízimos a falsos pastores que, ao menos, lembram-se de falar de Deus.

A Igreja, Senhores Bispos e Reverendíssimos Padres, é que parece ter nos abandonado. Parece ter-se esquecido de nós, entretida que está com o salário mínimo, a parada de sucessos, a globalização, o novo rock de um padre cantor, o neoliberalismo, a novíssima coreografia que mais e mais banaliza aquilo em que sabemos – pela Fé somente – que esconde uma Missa. Uma Missa, que deveria ser fiel espelho da liturgia da Jerusalém Celeste!

A Igreja, Senhores Bispos e Reverendíssimos Padres, é que parece ter nos abandonado, a nós e a nossos filhos.

Pedimos assim, humildemente, de joelhos, que nos dêem de volta aquilo que nos foi tirado. Queremos a Missa que inspirou os Santos. Queremos a Verdade que os educou e formou e que parece ter sido temporariamente esquecida em favor de um folheto eleitoral. Queremos a firmeza no ensino e no governo, tão mais necessária agora, quando tantas e tantas contradições nos assolam.

Queremos, Senhores Bispos e Reverendíssimos Padres, a Igreja de volta.

Seria pedir demais?

Respeitosamente,

Seus súditos e fiéis vassalos,
os Leigos.

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