Mentiras bolcheviques

A revolução russa não pode ser vista como uma revolução popular propriamente dita, diferente do que se pensa, ou do que se quer induzir a pensar, a participação do povo foi muito pouca, quase diminuta. A importância das massas se restringiu a construção de uma máquina ideológica por meio das frentes trabalhistas; uma fachada pseudo-popular. O sucesso revolucionário foi obtido graças a infiltração em altos escalões dos ministérios militares e das polícias além, é claro, da própria nobreza que ou sonhava com a revolução ou não via com bons olhos as mudanças políticas propostas por Nicolau, como veremos mais adiante.

O Tsar representava o Cristianismo Ortodoxo [Cismático mas, de fato, um cristianismo apostólico] e a Rússia, sendo assim, a criação um governo comunista, ou de extrema-direita, perpassava, obrigatoriamente, pela necessidade de ultrajar a família real e criar junto ao povo o gérmen anti-Romanov. Infelizmente foi esse o método usado pelas forças revolucionárias; a imagem de Nicolau II passou a ser objeto de zombaria e escárnio, não só com factóides e histórias milimetricamente inventadas, mas também alvo de um complexo jogo de intriga.

Depois do golpe a eliminação dos resquícios imperiais se tornou essencial. Um ponto basilar era a destruição do espírito russo, do ethos cristão e tradicional que norteava e fundamentava a existência do povo eslavo. A derrubada desses símbolos teria um apogeu; a morte da família Romanov, a representação física, carnal, de um ideal, de princípios, valores, de uma fé. Símbolos vivos de uma Rússia que deveria ser sepultada!

Após a morte de Nicolau II e sua família os comunistas continuaram com o projeto de desmoralização. A mentira foi repetida milhões de vezes, era necessária uma nova geração formada sobre esse fascínio revolucionário anti-imperial. O conhecimento empírico dos contemporâneos do Tsar impedia a total absolutização desse jogo de mentiras. A moderna e tradicional Rússia de Nicolau II, a Rússia da alta industrialização, das reformas institucionais, do resgate do Patriarcado de Moscou, se tornou a Rússia da crueldade, despotismo, tirania.

Os grandes fatos que corroboram a proposital deformação da história de Nicolau II são; a guerra do Japão, os progroms contra os judeus, domingo sangrento e Rasputin!

Rasputin é objeto de milhares de teorias e teses, a grande maioria se baseia nas falácias proferidas pelas comunistas no período pós-revolucionário. Mesmo assassinado a família real os bolcheviques criaram uma máquina publicitária anti-Romanov, mantendo um projeto de desmoralização com lendas e mitos. Grigori Rasputin, o “diabo santo”, é mais uma das produções da perversa criatividade bolchevique.

Esse diabólico homem foi apresentado a Tsarina como sendo o herdeiro e sucessor de São Serafim de Sarov, santo de piedosa devoção da família. Rasputin era tão sonso que fizera uma peregrinação a Kiev, Sarov, locais sagrados em toda a Rússia, com o claro propósito de estimular sua fama de santidade, era tão sorrateiro que chegara a ponto de ludibriar sacerdotes como o Pe. Teôfano, reitor da Academia de Teologia de Petersburgo: “Na vila de Pokroveskoe vive um homem religioso chamado Grigori. Como São Serafim e o profeta Elias, tem o dom de fechar os céus”.

Rasputin usou da sincera piedade familiar como brecha para conquistar os corações contritos e amáveis dos soberanos. Depois que passara a “curar” o Tsarevich Aléxis, possivelmente com hipnose, seu prestígio em meio aos Romanovs foi as alturas. Entretanto, ao mesmo tempo que estimulava sua falsa santidade, não escondia seus verdadeiros princípios, ou falta de. A polícia secreta, que o espionava, havia relatado que ele se embebedava e “tinha relação com coristas, cantoras de cabarés e mulheres de índole duvidosa”. Além disso Rasputin fazia questão de espalhar, por meio de boatos, as histórias das suas orgias; um dia, junto com dois grandes repórteres (sendo que um era do maior tablóide da Rússia) e mulheres em geral, foi para um restaurante, se embriagou, ficou nu, mostrando as partes íntimas, continuou a conversar e proferiu frases obscenas e baixas.

A total fidelidade da Tsarina ao santo de Pokroveskoe se sustentava na falsa mística de Grigori Rasputin. Alexandra era religiosa, assim como toda a família, e, como era amplamente conhecida na Rússia, existia uma classe de santidade muito singular e devota, “os loucos por Cristo”, Rasputin se passava por um, onde o idiotismo se refletia na degeneração sexual.

Os três outros eventos que fundamentam a corrupção da imagem de Nicolau II devem ser entendidos a partir do real conhecimento do alto grau de infiltração revolucionária nas instituições políticas do Império. Depois da morte do Ministro do Interior, Pehve (de cujo ministério o departamento de polícia fazia parte), descobriu-se em seus escritos que a guerra da Manchúria foi induzida, ele dizia: “Para segurar a revolução, precisamos de uma guerrinha vitoriosa”

Witte, o Ministro mais influente da Rússia, contou em suas Memórias um episódio curioso: durante sua gestão como primeiro-ministro ele lutou para acabar com os progroms, ações violentas contra os judeus. Como era natural, teve o auxílio e apoio do Departamento de Polícia. Ficou horrorizado quando soube, através de um oficial do departamento, que, ao mesmo tempo em que combatia os progroms, a polícia preparava editais destinados a incitar o povo a massacrar os judeus! Esses editais eram enviados secretamente, em pacotes, para as províncias. O terrível massacre dos judeus em Gomel começara por causa deles.

A perseguição anti-semita foi usada pela polícia e pela camarilha como artifício de desgaste da imagem do Tsar, até apresentaram os Protocolos dos Sábios do Sião – forjado pela polícia – a Nicolau que percebeu, claramente, que se tratava de uma adulteração. Até o revolucionário Burtsev reconheceu: “No começo, logo que os Protocolos apareceram, o Tsar os aceitou de boa fé e até encantou-se por ele, mas percebeu rapidamente que o livro não passava de provocação”.

E qual o interesse político nesse anti-semitismo tão ferrenho, além, é claro, da destruição da imagem do Tsar? O ex-Primeiro-Ministro Witte responde: “Do seio desse povo judeu, que era extraordinariamente covarde trinta anos atrás, surgiram aqueles que estão dando a própria vida pela revolução, transformando-se em bombardeadores, assassinos e agitadores. Nenhuma nação deu à Rússia tantos revolucionários como a nação judaica”.

Vera Leonidovna Yureneva, uma das poucas sobreviventes do mundo imperial russo, disse em exílio:

“A camarilha da Rússia, envolvia famílias importantes, mas degeneradas, que temiam perder riqueza e o poder, e detestavam o incompreensível capitalismo dos novos tempos. Era essa gente que formava o círculo interno, a corte de Nicolau e Alexandra. Meu amigo percebia que na Rússia havia uma aliança secreta entre a extrema direita, isto é, a camarilha e a polícia secreta. Foi por isso que, quando Alexandre II estava preparando a constituição, a polícia deixou de protege-lo como deveria e ele foi assassinado. Meu amigo sempre falava dos bilhetes cheios de ameaças contra o Tsar Alexandre III que chegavam ao palácio de Gatchina, cuidadosamente vigiado. Reforçavam o ódio do Tsar pelos liberais e eram enviados através da polícia secreta. O Departamento de Polícia fugiu do controle do Tsar, no fim do século, quando a polícia secreta começou a espalhar agitadores no movimento revolucionário (…). Começou uma época de perigosas intrigas tecidas pela camarilha e pela polícia secreta contra o tsar e a sociedade. Uma dessas intrigas foi a guerra japonesa “.

Outra conspiração da polícia secreta foi o famoso Domingo Sangrento, que deu ao Tsar a mentirosa alcunha de “Nicolau II, o Sanguinário”. É bom recordar que uma semana antes do fatídico dia Nicolau finalmente se levantara contra a escusa camarilha – que já pensava em trocar o verdadeiro Tsar por um primo Romanov distante – ao aprovar leis destinadas a melhorar e regulamentar a conduta governamental. Não obstante, o chefe-de-policia, Dimitri Fedorovich, pediu demissão como protesto pelas sadias e essenciais reformas.

Também devemos lembrar que três dias antes do infeliz acontecimento, na festa da Epifania do Senhor, fizeram no aterro do palácio um “rio Jordão” para a consagração anual da água. Nicolau ajudara o Patriarca na celebração e, como era tradição, o canhão da fortaleza de São Pedro e São Paulo, localizado do outro lado do “Jordão”, disparou tiros. Para horror das pessoas ali reunidas o canhão fora carregado com balas verdadeiras e não de festim. Por milagre o Tsar não foi atingido, mas um policial saiu ferido, seu nome era Romanov! A polícia, que em circunstâncias normais ficaria exageradamente preocupada, declarou o fato como um acidente desagradável.

Sabemos que o Domingo Sangrento era, na verdade, um marcha onde o povo, espontaneamente, carregava bandeiras, retratos do Imperador e ícones, enquanto entoava o ‘Deus Salve o Tsar’. Era sim uma ação popular organizada em defesa da melhoria da qualidade de vida, mas nem de longe trazia em seu âmago uma espírito armado. O Departamento de Polícia, mesmo estando muito bem informado das boas intenções da marcha de protesto, porque Gabon, o organizador, era um de seus agentes, ameaçou o Tsar dizendo que durante a manifestação haveria muito tumulto, que era uma revolta preparada por revolucionários que queriam assaltar o palácio. Nicolau II escreveu em seu diário:

“9 de Janeiro de 1905. Um dia difícil. Sérios distúrbios em Petersburgo, em conseqüência da tentativa dos trabalhadores de tomar o Palácio de Inverno. As tropas foram obrigadas a atirar e, em vários pontos da cidades, pessoas foram mortas ou feridas. Senhor, é tão doloroso e duro”

Vera Leonidovna Yureneva ainda disse em suas memórias:

“(…) No livro que escreveu, meu marido, Koltsov [era judeu], pintou um retrato devastador do Tsar, mas ele realmente não compreendia. Eu comparava o Tsar ao bom homem, personagem de uma peça chinesa, a quem um malfeitor iludia com mentiras. O bom acreditou, por um instante, no mau. Meu amigo, o livre-pensador, que tinha amizade com Witte, percebeu, no final de 1904, que havia um complô na corte e que o Domingo Sangrento fazia parte do esquema”.

Depois do Domingo Sangrento o número de atentados aumentou de maneira colossal, praticamente já se vivenciava um amostra do terror que seria a revolução. Nesses ataques o tio do Tsar, Grão-Duque Sergei Alexandrovich, foi morto. O seu falecimento não deve ser recordado pela figura que ele foi, já que era despótico e entregue a corrupção, mas o que tornou o evento impressionante foi a atitude de sua esposa, Elizaveta Fedorovna, santa da Igreja Ortodoxa, sepultada na Igreja de Santa Maria Madalensa, em Jerusalém. Ella, como era conhecida na côrte, colocou na pedra tumular do marido a seguinte mensagem; “Pai, perdoia-os, porque não sabem o que fazem”, indo visitar o assassino na prisão:

– Por que matou meu marido? – perguntou ao assassino
– Matei Sergei Alexandrovich porque ele era uma das armas da tirania. Vinguei-me em nome do povo – ele respondeu.
– Não dê ouvidos ao orgulho – ela aconselhou
– Arrependa-se e suplicarei ao soberano para que lhe poupe a vida. Intercederei por você, porque eu mesma já o perdoei.

O assassino não se arrependeu, mas diante de um mundo tão decadente, corrupto e empobrecido, Elizaveta e Nicolau surgiam como pérolas em meio a devassidão. A Grã-Duquesa Elisabete, depois da morte do seu marido, fundou o mosteiro de Santa Maria e Santa Marta, vivendo unicamente da adoração ao Senhor. Quando a revolução chegou foi martirizada sendo sepultada viva numa mina.

Elisabete, assim como Nicolau, sonhava com uma Rússia onde havia respeito a vida, a profundidade e beleza da existência humana. O Imperador, enquanto tal, imaginava um país moderno, com instituições arejadas, crescimento econômico, abertura comercial, ao mesmo tempo em que guardava os esplendorosos legados tradicionais da nação, do povo russo, entre eles a fé.

O Tsar, em carta a sua mãe, disse: “(…) Discutimos o documento durante dois dias [a constituição]. Então orei e assinei-o (…). Querida mamãe, não pode imaginar quanto tenho sofrido. Meu único consolo é pensar que essa é a vontade de Deus e que a difícil decisão tirará nossa amada Rússia desta situação caótica, insuportável, em que se encontra há quase já um ano”.

Não sabia o Tsar que a camarilha e os comunistas não queriam uma Constituição ou reformas nas leis, mas sim a derrubada dos Romanovs, a divisão do poder, o controle do Estado; o corpo ensangüentado de Nicolau II e sua família.

14 de maio de 1986. Moscou, Kremlin. “Na antiga Catedral da Assunção, o rito sagrado de coroação seguia seu curso. Velas acesas…Um coro angelical…Ele tomou a grande coroa das mãos do Patriarca e colocou-a na própria cabeça. Ela ajoelhou-se diante dele…Uma pequena coroa de diamantes já cintilava no cabelo loiro “.

17 de julho de 1918. Ekarerinburg. “Os corpos foram colocados na vala e sobre eles derramou-se ácido sulfúrico, para evitar que fossem reconhecidos e que exalassem mau cheiro ao apodrecer, pois a vala não era profunda. Cobrimos com terra, cal e tábuas e passamos por cima várias vezes, de modo que não ficou sinal da cova. O segredo está bem guardado”.

O primeiro Romanov a governar a Rússia foi tirado do monastério de Ipatiev. O grande soberano Nicolau perdeu a vida numa casa chamada Ipatiev!

O primeiro Tsar Romanov se chamava Miguel. Um Miguel foi também o último Tsar em favor de quem Nicolau II, humildemente, abdicou!

Tristes coincidências!

Assim acabava uma família real que realmente fazia jus aos seus títulos; seus membros eram realmente nobres!

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