Sermão 188,4 de Santo Agostinho de Hipona (Séc. V)
Celebramos, pois com alegria, o dia em que Maria deu à luz o Salvador. De uma mulher desposada nasceu o Autor do matrimônio. De uma virgem, o Rei das virgens. A desposada a um homem torna-se mãe, sem concurso de homem. Ela, virgem, antes do matrimônio, virgem no matrimônio, virgem gestante, virgem lactante.
Com efeito, de modo algum ao nascer o Filho Onipotente, arrebatou sua mãe, por ele mesmo escolhida, a virgindade. Pois se é boa a fecundidade no matrimônio, melhor é a virgindade consagrada a Deus.
Cristo-homem, sendo Deus – pois é ao mesmo tempo Deus e homem – , poderia conceder-lhe uma coisa e outra. Contudo nunca teria dado à sua mãe o bem que os casados amam, se isso significasse a perda de outro bem maior, aquele pelo qual as virgem renunciam a se tornarem mães.
Assim, pois, a Santa Igreja, que também é virgem, celebra hoje o parto da Virgem. A ela, referem-se as palavras do Apóstolo: “Deposei-vos a um esposo único, Cristo, a quem devo apresentar-vos como virgem pura” (2Cor 11,2).
Mas como será a Igreja “virgem pura”, se ela é formada por tantas pessoas, de um e outro sexo, não somente de crianças, rapazes e moças, mas também de casados, pais e mães? Onde estará, repito, essa “virgindade pura”, a não ser na integridade da fé, da esperança e da caridade?
Eis por que Cristo, que haveria de fazer germinar a virgindade no coração de Sua Igreja, antecipou-a no corpo de Maria. Ora, pelo matrimônio humano, a mulher entrega-se a seu esposo e deixa de ser virgem. Por outro lado, a Igreja não poderia ser virgem, se não tivesse por Esposo o Filho da Virgem, a quem se entrega.
Dos sermões de Santo Agostinho, Sermão 188,4 – 5o. do Natal.
Fonte: A Virgem Maria: cem textos marianos com comentários/ Santo Agostinho; Traduzido por Nair de Assis Oliveira – São Paulo: Paulus, 1996. 3a. Edição, 2003. Pgs 92-93.