Por Teófanes Egidio López

Tradução: Carlos Martins Nabeto

Vamos ver hoje quatro fatos interessantes sobre as origens da Reforma luterana, bem diferentes do que aprendemos na escola:

1) “A moderna investigação chegou à conclusão de que o gesto desafiador e arrogante de pregar o texto das [95] Teses na porta da igreja do castelo [de Wittenberg] foi uma criação bem posterior a Lutero, que jamais aludiu ao detalhe cenográfico convertido depois em símbolo dramático do nascimento do ‘protestantismo’. Tratava-se mais de uma entre tantas disputas interuniversitárias, redigidas em latim e dirigidas a poucos participantes e ouvintes. (…) [Foram alguns de seus amigos] que, deliberada ou indiscretamente, as divulgaram. A imprensa [alemã] se lançou sobre o produto com seu poder multiplicador (…) [e] em poucas semanas  percorreram todo o país alemão, fazendo a fama do doutor Lutero (que então alterou o seu sobrenome de ‘Luder’ para ‘Lutero’ ou ‘Eleutério’)”.

2) “Neste processo de esclarecimentos, decisivo foi a Disputa de Leipzig (julho/1519), baluarte da ortodoxia [católica] na outra Saxônia, a do duque Jorge. Foi um debate solene, uma espécie de festa urbana com cenário chamativo e assistência de todas as forças: tratava-se de discutir publicamente as questões candentes para que os assistentes e, a seguir, os juízes nomeados para o caso emitissem seu veredito. Ali, a universidade adversária, que se prezava por ter sido sempre a fortaleza contra os [hereges] hussitas, socorreu Lutero com outros teólogos partidários (entre eles Karlstadt). Foi um erro da sua parte, pois o contendente era ninguém menos que o temível polemista João Eck (1486-1543), vice-chanceler da Universidade de Ingolstadt. Experiente, soube encurralar o agostiniano, obrigando-o a confessar clamorosamente a falibilidade dos Concílios e o único recurso à Sagrada Escritura, com a consequente negação do primado romano – o que equivalia a [auto]proclamar-se herege. Pouco depois as autorizadas Universidades de Lovaina e Colônia qualificaram e condenaram a heresia de Lutero”.

3) “Porém Lutero não estava sozinho. Ele atribuía tudo à força de Deus (…) [mas] a verdade é que ele contava com todo um movimento simpatizante e comprometido com suas queixas e projetos. Seu anti-romanismo era compartilhado pela maior parte dos intelectuais humanistas europeus; seus manifestos germânicos tinham conquistado os dirigentes e oligarquias dominantes; as afirmações de ‘liberdade do cristão’ agitaram as esperanças das classes oprimidas; e o que era ainda mais decisivo: dispunha de segurança política – sabia muito bem que as forças de seu espaço alemão o respaldavam, que seu príncipe territorial da Saxônia não o abandonaria e que, inclusive, o novo e jovem imperador teria que negociar em conivência com os príncipes e não em tanta concórdia com Roma. No séc. XVI já havia passado os tempos medievais da Cristandade, de modo que uma bula papal [condenatória], para ser eficaz, precisava ser executada pelos poderes civis, nem todos submissos às diretrizes romanas”.

4) “O comparecimento público do excomungado [na Dieta de Worms] se deu em 17 e 18 de abril [de 1521] (…) Advertido para que se retratasse, a decisão e as palavras posteriores do seu discurso foram vistas como um dos primeiros manifestos pela liberdade de consciência: ‘Não posso nem quero me retratar de nada porque não é seguro nem honrado agir contra a própria consciência. Que Deus me ajude. Amém’. Devemos porém advertir que Lutero jamais aplicou a nenhum dos seus dissidentes ulteriores a [mesma] liberdade de consciência que reclamou para si”.

(Egidio López, Teófanes. “História Universal Moderna”, vol.2: “Las Reformas Protestantes”. Madri: Sintese, 1991, pp. 50ss.; tradução livre: CMN).

Fonte: https://www.facebook.com/carlosmartins.nabeto

Facebook Comments