• Autor: Anônimo
  • Fonte: A Catholic Response Inc. (http://users.binary.net/polycarp)
  • Tradução: Carlos Martins Nabeto

– “No primeiro dia da semana, quando estávamos reunidos para a fração do pão” (Atos 20,7).

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Recentemente recebemos um livreto de 80 páginas intitulado “What’s Behind The New World Order?” [=”O que está por trás da Nova Ordem Mundial?”]. A publicação admite ser uma coleção de trechos do livro “Will America Survive?” [=”A América Sobreviverá?”], que foi publicado originalmente há 100 anos, com o título de “The Great Controversy” [=”O Grande Conflito”]. Este livro foi escrito por Ellen Gould White, fundadora dos Adventistas do Sétimo Dia. Alega que a Igreja Católica está por trás da Nova Ordem Mundial. O livreto afirma que isso é verdade, uma vez que a Igreja é “a besta do Apocalipse” (cf. Apocalipse 17). Acusa a Igreja [Católica] de muitas coisas más e tenta provar que a Igreja é a besta expondo as “marcas da besta”. Devido ao espaço limitado, apenas uma dessas marcas será aqui considerada.

Segundo o livreto, uma das “marcas da besta” é a de não observar o descanso (sabbath) no sábado. Alega que no século IV a Igreja e o Imperador Constantino substituíram o sábado pelo “DIA DO SOL” pagão, ou seja, o domingo. Pois bem: é verdade que o Antigo Testamento fala do “sétimo dia”, mas atribuí-lo ao sábado é tradição hebraica. Como cristãos, devemos considerar isto à luz do Novo Testamento e dos ensinamentos de Cristo. Se esta é uma das “marcas da besta”, quase todas as igrejas cristãs atuais também a carregam.

Chega até a ser irônico [tal acusação] pois Jesus e os seus discípulos foram perseguidos pelos fariseus por causa do sábado (cf. João 5,18). Jesus falou contra a ímpia obediência do fariseu ao sábado (cf. Mateus 12,1-8; Lucas 13,10-16). E Jesus também defendeu a si mesmo e aos seus discípulos no tocante a esse assunto, dizendo:

  • “O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado; portanto, o Filho do homem é Senhor até mesmo do sábado” (cf. Marcos 2,27-28).

Desta forma, reivindicou autoridade sobre o sábado.

É verdade que a Igreja Católica, através da autoridade de Cristo, substituiu o sabbath hebraico (sábado) pelo Dia do Senhor (domingo); no entanto, isso ocorreu logo cedo, muito antes da época do imperador Constantino (século IV). Para os cristãos, dois eventos importantes ocorreram no domingo:

  • Primeiro, a ressurreição de Cristo aconteceu num domingo de Páscoa (cf. João 20,1-3).
  • Em segundo lugar, o Espírito Santo desceu sobre a Igreja num domingo de Pentecostes (cf. Atos 2,1-3).

Ademais, depois da Sua ressurreição, Jesus apareceu aos Apóstolos por duas vezes, sempre num domingo (cf. João 20,19.26). Como resultado, o domingo passou a ser conhecido para os cristãos como “o Dia do Senhor”.

O livreto afirma que não há evidências na Bíblia da mudança para o domingo. No entanto, no século IV, São João Crisóstomo citava Atos 20,7 como testemunho [desse fato]. De acordo com esse versículo da Bíblia, pelo menos alguns dos discípulos se reuniram num domingo, o primeiro dia da semana, para celebrar a Ceia do Senhor:

  • “No primeiro dia da semana, quando estávamos reunidos para a fração do pão, Paulo conversava com eles…” (Atos 20,7).

É interessante notar que São Paulo passou uma semana com a comunidade de Trôade (cf. Atos 20,6) e este é o único momento relatado em que celebrou a “fração do pão” com eles. Também não são feitas observações mais adiante, nessa passagem, de que São Paulo desaprovava o culto no domingo. Seria de se esperar que São Paulo se opusesse à essa prática caso estivesse enraizada no Paganismo.

Também no Antigo Testamento, Deus manifestara o seu desapontamento com o sábado hebraico (cf. Isaías 1,13-14). No Novo Testamento, São Paulo escreve:

  • “Portanto, que ninguém vos julgue por questões de comida ou bebida, ou em relação a festas, luas novas ou sábados. Estas coisas são apenas sombra do que estava por vir; a realidade, todavia, encontra-se em Cristo” (Colossenses 2,16-17).

Conforme estes versículos, a dieta [alimentar], as festividades e os sábados hebreus não são mais obrigações para os cristãos. Estes eram apenas um prenúncio das coisas que viriam em Cristo. O foco agora é Cristo (cf. 2Coríntios 3,7-17).

Em outros lugares, São Paulo diz aos coríntios para que contribuam com dinheiro para a Igreja todos os domingos (cf. 1Coríntios 16,1-2). Este seria um pedido estranho se os cristãos se reunissem aos sábados.

Hebreus 4,8 fala de “um outro dia” porque o antigo sábado não era obedecido. Se o sábado [como tal] tivesse realmente sido “escrito na pedra”, seria estranho falar de “um outro dia”.

De acordo com Apocalipse 1,10, São João foi “tomado pelo Espírito [Santo] no dia do Senhor”. Este é o único lugar na Bíblia em que a frase “dia do Senhor” ocorre. Se a sua visão tivesse ocorrido num sábado, São João teria escrito “no sábado” ao invés de empregar uma frase nova.

Embora os discípulos possam ter comparecido às sinagogas nos sábados para EVANGELIZAR (Atos 18,4), já ocorria no Novo Testamento uma transição definitiva do sábado para o dia do Senhor.

Os primeiros escritores cristãos também testemunham a observância do Dia do Senhor (domingo) no lugar do sábado hebraico (sabbath). O livreto tenta desacreditar os escritos históricos de Eusébio [de Cesareia], no século IV, alegando um conluio com o imperador Constantino; no entanto, não precisamos sequer confiar em Eusébio; podemos citar diretamente os escritos de cristãos que viveram no século I [isto é, três] séculos antes de Eusébio ou Constantino. Embora esses escritos não tenham a mesma autoridade da Bíblia, ainda assim eles são fontes históricas confiáveis,​ por preservar pensamentos, crenças e o estilo de vida dos cristãos durante o século I. Esses escritos incluem a Didaqué (um manual da Igreja, escrito pelos Apóstolos durante o século I), a Epístola de Barnabé (~100 d.C.) e as cartas de Santo Inácio de Antioquia, o qual foi martirizado em Roma antes do ano 110 d.C. Traduções desses escritos cristãos clássicos podem ser encontradas em qualquer biblioteca pública ou universidade local. As citações a seguir foram extraídas da obra “Early Christian Writings” (Penguin Classics, 1987). Segundo a “Didaqué”, os Apóstolos escreveram:

  • “Reúnam-se no dia do Senhor para a fração do pão e para oferecer a Eucaristia; mas antes, confessem suas faltas, para que o sacrifício de vocês seja puro” (Didaqué 14,1).

Esta passagem é muito semelhante a Atos 20,7. Observe também a conexão entre a “fração do pão” e a Eucaristia (cf. Atos 2,42; 1Coríntios 10,16; 11,23-25).

São Barnabé, em sua Epístola, dedica um capítulo inteiro à questão do sábado. Ele conclui escrevendo:

  • “E também nós nos alegramos em comemorar o oitavo dia, porque foi quando Jesus ressuscitou dos mortos” (Epístola de Barnabé 15).

São Barnabé, fazendo uso da frase “o oitavo dia”, se referia ao domingo.

Porém, talvez a afirmação mais forte tenha sido feita por Santo Inácio de Antioquia. Antes do ano 110 d.C., Santo Inácio escreveu aos magnésios:

  • “Vimos como os velhos adeptos dos costumes antigos alcançaram uma nova esperança, para que deixem de guardar o sábado e ordenem suas vidas agora para o dia do Senhor: o dia em que a Vida amanheceu por nós, graças a Ele (Jesus) e à Sua morte” (Epístola aos Magnésios 9).

Esta passagem aponta que os primeiros convertidos cristãos do judaísmo começaram a observar o dia do Senhor em honra à ressurreição de Cristo.

Por esses escritos, resta óbvio que os cristãos do século I já observavam o Dia do Senhor, o domingo.

O livreto afirma que a observância do domingo foi ordenada pelo imperador Constantino em 321 d.C. (referindo-se assim indiretamente ao Edito de Laodiceia). Alega que essa ordem foi imposta ao povo; no entanto, essa afirmação não é exatamente verdadeira. Talvez esse decreto tenha sido imposto aos comerciantes pagãos, que pensavam que todo dia deveria ser considerado dia útil, e talvez também àqueles que pensavam que os cristãos devessem observar toda a lei de Moisés, inclusive a circuncisão (cf. Gálatas 5,6-12; 6,12-16; 1Coríntios 7,18-19). Esse decreto apenas tornou o domingo um feriado civil. Ao fazer isso, secularizou uma prática que já era observada há séculos pelos cristãos. Como mostrado acima, essa prática antiga é testemunhada pela Bíblia e nos escritos dos Apóstolos, São Barnabé (~100 d.C.), Santo Inácio (107 d.C.), e ainda São Justino Mártir (~150 d.C.) e Santo Irineu (155-202 d.C.).

Deus em sua sabedoria sabe que precisamos dedicar um dia por semana especialmente para Ele, caso contrário ficaríamos tão ocupados com o nosso trabalho diário, que poderíamos nos esquecer Dele e perder a nossa fé. Pois bem: o ponto essencial do 3º Mandamento é que santifiquemos um dia da semana ao Senhor. Mas observar especificamente o sábado como sendo esse dia é apenas matéria cerimonial. Assim como o Batismo substituiu a circuncisão (cf. Colossenses 2,11-12), para os cristãos o domingo também substituiu o sábado. A observância do dia do Senhor não é “uma marca da besta”, mas “a marca do cristão”.

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