Reflexão Patrística – “Ó admirável intercâmbio!” (São Gregório de Nanzianzo, +379)

“O próprio Filho de Deus, que existe desde toda a eternidade, o Invisível, o Incompreensível, Incorpóreo, Princípio que procede do princípio, a Luz nascida da Luz, a Fonte da vida e da imortalidade, a Expressão do arquétipo, Divino, o Selo inamovível, a Imagem perfeita, a Palavra e o Pensamento do Pai, vem em ajuda da criatura feita à Sua imagem, e por amor do homem Se faz homem. Para purificar aqueles de quem Se tornou semelhante, assume tudo o que é humano, exceto o pecado. Foi concebido por uma Virgem, já santificada pelo Espírito Santo no corpo e na alma, para honrar a maternidade e ao mesmo tempo exaltar a excelência da virgindade; e assumindo a humanidade sem deixar de ser Deus, uniu em Si mesmo duas realidades contrárias, a saber: a carne e o espírito. Uma delas conferiu a divindade; a outra recebeu-a.

Aquele que enriquece os outros torna-se pobre. Aceita a pobreza de minha condição humana para que eu possa receber os tesouros de Sua divindade. Aquele que possui tudo em plenitude, aniquila-Se a Si mesmo; despoja-Se de sua glória por algum tempo, para que eu participe de Sua plenitude.

Quais são essas riquezas da Bondade? Qual é esse mistério que me concerne? Recebi a imagem divina mas não soube conservá-la. Ele assumiu a minha condição humana para restaurar a perfeição dessa imagem e dar a imortalidade a esta minha condição mortal. Assim, estabelece conosco uma segunda Aliança, muito mais admirável que a primeira.

Convinha que a santidade fosse dada ao homem mediante a humanidade assumida por Deus. Convinha que Ele triunfasse desse modo sobre o tirano que nos subjugava, para nos restituir a liberdade e reconduzir-nos a Si através de seu Filho, nosso Mediador; e Cristo realizou, de fato, esta obra redentora para a glória de Seu Pai, que era o objetivo de todas as suas ações.

O Bom Pastor, que dá a vida por suas ovelhas, veio ao encontro da [ovelha] que estava perdida, procurando-a pelos montes e colinas onde tu sacrificavas aos ídolos. Tendo-a encontrado, tomou-a sobre seus ombros – os mesmos que carregaram a cruz – reconduzindo-a à vida eterna.

Depois daquela tênue lâmpada do Precursor, veio a Luz claríssima de Cristo; depois da voz, veio a Palavra; depois do amigo do esposo, o Esposo. O Senhor veio depois daquele que lhe preparou um povo perfeito, predispondo os homens, por meio da água purificadora, para receberem o batismo do Espírito.

Foi necessário que Deus Se fizesse homem e morresse, para que tivéssemos a vida. Morremos com Ele para sermos purificados; ressuscitamos com Ele porque com Ele morremos. Fomos glorificados com Ele, porque com Ele ressuscitamos” (Sermão 45,9.22.26.28; PG 36,634.635.654.658-659.662).

Facebook Comments

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.