O embate católico-protestante

Caro Alexandre Semedo :

Venho acompanhando através de inúmeros artigos deste site, as controvérsias a respeito da Doutrina Católica e a Visão Protestante da Fé Cristã. Como católico que sou, não poderia me calar e deixar o embate ao sabor do vento a que se propõem às inúmeras seitas protestantes, tentando contagiar a fé católica com erros e heresias que se opõem à sã doutrina deixada por Cristo Jesus.

Sobre este aspecto, venho deixar a minha contribuição neste embate doutrinário em que destaco cinco pontos que acho essenciais para discernir e esclarecer qual é a verdadeira Igreja e quem afinal é fiel à única fé deixada por Cristo Jesus. Serão abordados os seguintes pontos :

1 → A Questão da Autoridade / Legitimidade ;

2 → A Questão Doutrinária / Material ;

3 → A Questão Moral ;

4 → A Questão Temporal ;

5 → A Questão Escatológica.

1 – A Questão da Autoridade / Legitimidade

Como sabemos, Deus é infinitamente perfeito e bom, soberanamente sábio e justo, estável, imodificável nas Suas palavras e decisões, que jamais pode contradizer-Se, nem induzir ninguém ao erro. Assim sendo, a Revelação por Ele expressa, é única e imutável, não se admitindo interpretações diversas.

Quando Jesus veio ao mundo, como expressão suprema da Palavra (Verbo) de Deus, trouxe Consigo a Verdade Eterna, aquela em que Deus se comunica com o Homem e mostra ao mesmo o caminho de salvação, que foi preparado desde a fundação do mundo. Nosso Senhor Jesus Cristo disse que Ele é “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). Do mesmo modo, a Sagrada Escritura nos adverte que há apenas “Um só Senhor, uma só Fé, um só Batismo” (Ef 4,5). Nosso Senhor Jesus Cristo, antes de ser preso e crucificado, afirmou aos Seus discípulos (os Apóstolos, a Igreja) a glória que o Pai Lhe manifestou foi para que todos Sejam Um, como Cristo e o Pai são Um (Jo. 17,22). O Senhor é único, a Verdade é única, o Caminho é único (Ele jamais disse que era “uma qualquer verdade”, ou que era “uma das verdades”; não disse que era “um caminho qualquer”, ou que era “um dos caminhos”); a Fé é única, o Batismo é único. A Igreja verdadeira é também uma só.

Quando Jesus fundou Sua Igreja, quis que a mesma fosse o instrumento universal de salvação “E eu te digo: Tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja e as portas do inferno nunca prevalecerá sobre ela. Eu te darei as chaves do reino dos céus, e tudo que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo que desligares na Terra será desligado nos Céus” (Mt. 16, 18-19). A Igreja é também, no dizer de São Paulo, Coluna e Sustentáculo da Verdade (1 Tm. 3,15). Ora, com tantos testemunhos explícitos da Verdade e Unicidade da Igreja, além da garantia de Cristo que a mesma jamais sucumbiria ante as adversidades dos poderes das trevas, como a mesma poderia se esfacelar como vemos atualmente, cada dia novas seitas são criadas e novos pastores guerreiam entre si e divide-se cada vez mais a Igreja de Cristo ?

A autoridade a que me refiro neste ponto do estudo é Jesus Cristo, aliás a única Autoridade que pode fundar e extinguir qualquer Igreja, como fez com os judeus que o rejeitaram ( Lc. 21, 5-6 ); ( Mt. 24, 1-2 ). Assim sendo, pergunto como Lutero teve a ousadia e autoridade de fundar uma “nova igreja” se não foi lhe dada nenhuma de cima, pois como vimos anteriormente, somente Jesus, por Sua própria autoridade que vem do Pai, tem o poder de fundar e extinguir qualquer Igreja. E, pelo que sei, por volta do ano 1517 da Era Cristã, Jesus não desceu dos Céus para derrogar os poderes que foram dados à Igreja nascente, confiada aos Apóstolos e exercida através de uma sucessão apostólica ininterrupta através dos séculos até os tempos atuais somente a Santa Igreja Católica.

Os cristãos reformados questionam o nível de decadência moral e material que vivia a Igreja Católica da época, com a Inquisição e as Indulgências como forma de salvação. É verdade que a igreja (filhos da mesma) cometeu alguns excessos (igreja aqui com ?i? minúsculo, que é o povo de Deus, sujeito a erros e acertos como qualquer mortal, para diferenciar da Igreja com “I” maiúsculo, que é o Corpo de Cristo e cujos membros são todos os cristãos que guardam a Fé única e indivisível de Cristo recebida pelos Apóstolos).

A problemática que vejo no entendimento deste ponto, é que os nossos irmãos protestantes não diferenciam que a Igreja de Cristo é formada por santos e pecadores, que somos todos nós, que através da história do povo de Deus, alguns membros não foram fiéis ao Projeto de Cristo querido e desejado a Sua Igreja, mas isto não anula o único projeto de salvação que Deus traçou, deste toda a eternidade aos homens, e que na plenitude dos tempos, revelou em toda a sua integridade de maneira única em Cristo Jesus, cujo prolongamento do Seu Corpo Místico (Cl. 1, 18) encontra-se tão somente desde a sua fundação na Santa Igreja Católica.

Dito isto, devo afirmar que a nenhum dos membros de Cristo tem o poder de invalidar a Sua Igreja e constituir uma “nova”, ao seu talante, sem autoridade e legitimidade para tanto. Na época de Lutero, a Igreja necessitava de uma reforma, mas esta melhoria tinha que vir por dentro dela, jamais deveria haver cisão na mesma, pois isto constituiria num rompimento com os poderes do Céu, pois foi do alto que a Igreja foi constituída e somente do alto pode ser abolido este mesmo poder.

Diferentemente de outras instituições humanas, em que quando ocorre um roubo, desfalque ou quando uma empresa qualquer comete atos ilícitos, qualquer membro pode e deve denunciar esses atos imorais e, se quiser, pode constituir um novo empreendimento. A Igreja de Cristo, por sua peculiaridade única (pois é ao mesmo tempo divina e humana), quando há um erro cometido por seus fiéis, deve a mesma pedir perdão pelos pecados cometidos e propor a reconciliação entre seus membros, sem cisões, rupturas, heresias e apostasias, pois a mesma é o Sacramento Universal de Salvação nos oferecido por Cristo Jesus, realidade concomitantemente temporal e atemporal e indivisível.

Fazendo uma breve e salutar comparação, cito a trajetória de dois personagens da cristandade que, embora as situações vividas pela Igreja das suas épocas fossem bastante tumultuadas, percorreram caminhos diversos e deram resoluções diferentes ao problema em tela. Refiro-me a São Francisco de Assis e a Lutero. Francisco de Assis, monge que viveu um período conturbado na história da Igreja, desejou modificar alguns aspectos da igreja da época. Fez-se então uma reforma, que revolucionou o mundo, e que grande e bela reforma… mas a fez por dentro da Igreja, ou seja, sem rupturas respeitando a autoridade, unicidade doutrinária e a obediência papal. Diversamente ocorreu com a Reforma Protestante, que em Lutero tentou fazer uma reforma por fora da Igreja, com cisões e erros doutrinários, e que trouxe a mesma toda a divisão e rupturas que até hoje constitui um desafio para os cristãos em expressar que a fé do ” amai-vos uns aos outros” possa fazer tantas divisões em seu bojo. Isto foi maléfico para a Igreja em dois sentidos: além de quebrar a Unidade e Inviolabilidade da Santa Igreja, tão querida por Cristo, esfacelando-a e pulverizando-a em um sem número de igrejas e seitas cada dia mais numerosa, trouxe também o mal do contra-testemunho, pois como podemos pregar para os não-crentes a doutrina do “amai-vos uns aos outros” se entre nós não observamos tal prática ?

2 ? Questão Doutrinária / Material

O Protestantismo, definido como um movimento reformador da Igreja no século XVI, e hoje existe sob a forma de centenas de denominações independentes umas das outras. Distinguem-se o protestantismo tradicional e o protestantismo moderno. O tradicional compreende três grandes comunidades: Luterana, Calvinista e Anglicana. Das três igrejas protestantes tradicionais são derivadas centenas de sociedades menores, que constituem o protestantismo moderno. Este é movido por espírito diverso das comunidades tradicionais, assumindo, por vezes, índole sectária; são reformas da reforma, dissidências da dissidência, que vão esfacelando cada vez mais o patrimônio da fé cristã.

Na versão moderna encontram-se os grupos ditos Pentecostais tradicionais e os Neo-Pentecostais, que são uma subdivisão da corrente tradicional. Além disso, existe ainda a corrente dos para-protestantes, que são os grupos que, devido as suas teses doutrinarias serem tão aberrantes e não encontram nenhuma compatibilidade e fundamento na Fé Cristã, são separados do próprio grupo dos ditos Tradicionais. São exemplos desse grupo os Adventistas, as Testemunhas de Jeová e os Mórmons. Acrescente-se a isto, para piorar ainda mais a Babel doutrinária dos Grupos ditos Evangélicos, existe hoje uma nova corrente teológica que se autodenomina “Igreja em Células”, que nada mais é do que uma Igreja que se decompõe em várias outras, que prega abertamente o abocanhamento de uma igreja pelas outras como forma de incorporação e crescimento rápido do número de membros, numa espécie de “canibalismo religioso”, além das que pregam abertamente a funesta e errática doutrina da “Teologia da Prosperidade”, como exemplo maior temos a Universal do Reino de Deus.

Diante de tais fatos, não dá para acreditar uma pessoa em sã consciência e desprovida de qualquer preconceito religioso que exista um “Espírito Santo Protestante” a prover e guiar tamanha confusão doutrinária na fé. Neste enfoque, sempre que me deparo com algum protestante que me aconselha a mudar de fé, num verdadeiro proselitismo religioso explícito, pergunto ao mesmo porque Deus necessitaria de tantas “doutrinas”, “igrejas”, “fés diversas” e inconformado com a existência de uma multiplicidade de “igrejas”, a cada dia necessitaria fundar mais uma nova “igreja”, numa verdadeira criação infindável e eterna de “igrejas” ao gosto do freguês ? Segundo dados de Estatísticas recentes, existem atualmente cerca de 30.000 seitas evangélicas espalhadas pelo mundo. Esta pergunta deixo a cada membro dos diversos ramos protestantes em responder.

3 – A Questão Moral

Jesus Cristo quando aqui esteve e nos deixou Seu ensinamento Doutrinário, teve como corolário um explícito regramento moral a seguir, dando embasamento e esteio aos princípios éticos e universais que o Evangelho se propunha a expor e difundir. Estes princípios morais se encontram explicitamente nos dez mandamentos da Lei de Deus, nas Bem-aventuranças, nas parábolas evangélicas e nas diversas passagens implícitas do Antigo e Novo Testamento.

A Santa Igreja Católica, no caminho bi-milenar de pregação e testemunho cristão, soube mais do qualquer outra igreja, explicitar de forma sábia e coerente as eternas verdades morais explícitas e implicitamente inseridas nos textos sagrados, de uma maneira profunda e sábia.

Com o Protestantismo, veio com o seu anarquismo doutrinário, o relativismo moral, onde cada “igreja” define suas normas morais a seguir, numa espécie de subjetivismo moral que conduz às incertezas dentro do sistema protestante.

A caoticidade deste sistema de conceitos morais encontra-se nos diversos segmentos do protestantismo uma profusão de comportamentos religiosos que ora aceitam um puritanismo moral rígido; ora aceitam uma moral mais aberta ao mundo, com uma certa sobriedade de vida entre seus membros; ora aceitam uma maior liberalização nos costumes; e há também a corrente explicitamente liberalizante e mundana.

Essas diversas correntes procuram sempre uma justificativa religiosa para embasar seus princípios morais, mais aí reside o problema maior, pois ao fundamentar suas teses morais, entram em contradição umas com as outras ditas “igrejas”, sendo como se auto-intitulam, possuem o mesmo “Corpo místico de Cristo evangélico”.

Ora, pergunto as estas diversas correntes protestantes, das mais conservadoras às mais liberais, se num mesmo “Corpo místico de Cristo” pode-se caber “igrejas” que aceitam a contracepção como algo “natural” e outras que rejeitam tal afirmação; “igrejas” que aceitam o divórcio como algo de acordo com os princípios evangélicos e outras que refutam tal proposição; “igrejas” que aceitam o aborto como um bem e direito feminino e outras que abominam tal propositura; “igrejas” que aceitam o homossexualismo como modo alternativo de vida, e outras que anatematizam tal procedimento. “igrejas” que possuem uma visão liberalizante das drogas, e outras que amaldiçoam quem se comporta desta maneira. Como conviver num mesmo sistema religioso conceitos tão díspares ? Para mim é inconcebível que num mesmo “Corpo místico de Cristo evangélico” aceite um amálgama de princípios e doutrinas tão contraditórias entre si, que mais parece uma “salada de frutas”, numa verdadeira torre de babel doutrinária e moral.

Esta caoticidade de idéias conduz à instabilidade moral da argumentação protestante, perdendo com isto força e credibilidade os valores protestantes num mundo em constante mudança e que necessita, mais do que nunca, de um sólido referencial moral e sistema de valores que no meu entender somente encontra fundamento na perene e bi-milenar doutrina da Santa Igreja Católica.

4 – A Questão Temporal

Nos Evangelhos sinóticos encontramos que a Igreja foi fundada por Cristo ( Mt. 16,18; Mt. 28,19; Mc. 16,15; 1 Cor. 3,11; Ef. 2,20; 1Pd. 2,4-6 ), que Cristo é a pedra angular da Igreja ( Mt. 21, 42; Mc. 12,10; Lc. 20,17 ) , que a mesma foi comprada com o sangue de Cristo ( At. 20,28; Ef. 5,25; Hb. 9,12 ) , que Cristo amou a mesma e se entregou por Ela ( Ef. 5, 25-26 ); que a mesma é perpétua e que Cristo a protege ( Mt. 16,18; Mt. 28,20 ); que é o Corpo de Cristo ( Rm. 12,4; 1 Cor. 12,12; Ef. 1, 22-23; Ef. 5,22; Cl. 1,18 ); que é a coluna e fundamento da verdade ( 1 Tm. 3,15 ) e que a mesma é infalível ( Mt. 16,18; Mt. 28,20; Mc. 16,16; Lc. 10,16; 1 Tm. 3,15).

Ora, diante de tantos argumentos evangélicos profundos e infalíveis que Cristo fundou a mesma (por sinal a única) e ainda lhe deu a garantia que sempre a acompanharia e as portas do Inferno jamais a sucumbiria até o seu retorno definitivo na Parusia. Após a Gloriosa Ascensão do Senhor Jesus aos Céus com a presença dos Apóstolos, estes deram continuidade ininterrupta, através da sucessão Apostólica pelos séculos seguintes, então como pode que 1.500 ( mil e quinhentos ) anos depois que tais fatos ocorreram sob a chancela e suprema autoridade de Cristo, vir um homem chamado Lutero e se auto-titulando de Reformador, engendrar o despedaçamento e aniquilação do único Corpo Místico de Cristo deixado por Ele para a salvação do mundo, que é a Sua Santa Igreja ? É cristão, portanto, dividir o corpo de Cristo em milhares de fragmentos?

Este questionamento faço com profunda inquietação espiritual, pois o que vejo a cada dia, como conseqüência da heresia protestante, o estraçalhamento e divisão cada vez maior da Igreja de Cristo, tão querida e amada por Ele ao ponto do Mesmo entregar Sua própria Vida por amor a Ela. Para mim, ou Cristo estava certo em fundar a Sua única Igreja ou não estava certo quando a chamou (A Minha Igreja). Ou deu garantias que a mesma jamais sucumbiria ou não deu nenhuma garantia de sua indestrutibilidade através dos séculos. Se nenhuma das afirmações acima está correta, então é melhor rasgar as páginas da Bíblia que expressam e fundamentam tal proposição evangélica. Para mim não existe meio termo.

A Indefectibilidade (sem mácula, sem mancha, pura, sem erros) da Santa Igreja reside na Suprema Autoridade de Cristo em fundá-la e dar a mesma a certeza da sua inerrância através dos tempos, com a pureza da fé original e único depósito doutrinal, sob os sinais visíveis dos sacramentos que a santifica, além de ser um instrumento universal de salvação para todos de boa vontade que a aceita e seguem seus ensinamentos. Este conjunto de coisas subsiste apenas na Igreja Católica Apostólica Romana.

Fico pensando como pode estas “igrejas” subsistirem ? Qual é o testemunho que elas podem a oferecer ao mundo de amor evangélico se as mesmas não se entendem e guerreiam entre si ? Porque Jesus teve que esperar por 1.500 ( mil e quinhentos ) anos após a Sua Gloriosa Ascensão e após isto fundar uma e várias outras “igrejas” ? Qual é a justificativa dessa espera tão tardia ? Neste lapso de tempo que vai da Gloriosa Ascensão de Cristo até a formação das “igrejas” da Reforma, ficou o mundo sem a assistência divina ? O que aconteceu com os cristãos que viveram antes disto ? Eram ou não cristãos ? Se não eram cristãos, o que é que eram então ? Que salvação eles poderiam esperar, pois a única Igreja que existia até então estava tão corrompida que não poderia garantir salvação a ninguém ? Por que Cristo não interveio ? Não estava em jogo a salvação de muitas almas ? Os primeiros cristãos que muitas “igrejas” protestantes dizem que eram puros e seguiam os preceitos evangélicos tinham como base doutrinária um culto “catolicizado” ou “protestantizado” ? Estava mesmo implícito no projeto de Cristo a criação de várias “igrejas” com doutrinas e preceitos morais diversos, com diferentes caminhos de salvação ? O Protestantismo tem muitas lacunas a resolver. Todas essas dúvidas eu deixo na mente dos protestantes em respondê-las.

5 – A Questão Escatológica

Como último ponto da minha reflexão coloco a unicidade da Igreja de Cristo e sua relação com a Parusia Crística. Se Cristo quis e amou a Sua Igreja até o fim, Ele mesmo virá buscá-la no fim dos tempos para um casamento eterno e definitivo, sendo este casamento um mistério em que São Paulo comparou a uma união entre um homem e uma mulher (Ef. 5, 24-27); no qual a mesma deve se apresentar a Cristo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga ou qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível diante de Seus olhos. Como então se dará este casamento segundo a argumentação protestante ? Com qual das ditas “igrejas” Cristo se casará ? Qual delas será escolhida em casamento ? Uma, todas ? Cristo por acaso é polígamo ? Aceitará toda e qualquer doutrina em seu reino celestial ?

Outro ponto importante que coloco em discussão é que se a cada dia nova “igreja” evangélica vai surgindo, há uma implicação escatológica de grande gravidade: Se considerarmos como uma “nova” revelação de Cristo tal e tal igreja, terão as mesmas que percorrer um dos requisitos pelos quais está implícito no Evangelho o Seu retorno, qual seja, o caráter universal de sua pregação a todos os crentes. Certamente cada “igreja” que surge teria que percorrer um longo caminho de pregação universal a cada povo, nação e cultura existente, o que traria como conseqüência um adiamento indefinitivo do retorno de Cristo ao mundo, tornando a Doutrina Escatológica uma mera utopia.

A verdadeira Igreja de Cristo está indissoluvelmente unida a Ele por todo o sempre, sem nunca ter havido interrupções, cisões, cismas ou rupturas, sendo a mesma coluna e sustentáculo da Verdade (1 Tm. 3,15) e sacramento universal de salvação. É incompatível ser de Cristo e pertencer a um sistema religioso que está dividindo continuamente o Corpo de Cristo, que nega o princípio da eficácia regeneradora que o Espírito Santo possui na condução da Igreja. O Protestantismo torna a mensagem evangélica mais empobrecida e vazia.

É evidente que um sistema religioso que afirma aceitar inteiramente o Cristo e todo o seu ensinamento, mas que leva em sua essência o vírus mortal da divisão do corpo de Cristo, somente pode ser definido como anticristo. Não há justificativa alguma para o fato de que o protestantismo tem sido absolutamente incapaz de manter uma unidade eclesial interna minimamente respeitável. Quando os protestantes se insurgem em apontar, com seus tratados e comentários bíblicos, os erros doutrinários do catolicismo, não se dão conta de que a simples existência de uma miríade de denominações protestantes independentes umas das outras é, nos seus olhos, uma trave de proporções apocalípticas. Que é que o protestantismo tem a nos oferecer ? Somente a cada dia mais uma “nova” doutrina a seduzir os homens e esfacelar o já ultrajado Corpo Místico de Cristo ?

6 – Conclusão

Por fim, para evitar maiores delongas ao assunto, faço uma observação do que é a Igreja Católica na sua existência bi-milenar como Instituição do Reino de Deus a serviço da humanidade. Nestes dois mil anos de existência, que não são dois anos, nem vinte anos, nem duzentos anos de atuação no mundo temos :

Nas suas origens, teve que sofrer um duro embate contra o Império Romano da época, foram 10 ( dez ) duríssimas perseguições que a mesma enfrentou e venceu. Depois disto, veio um período de conturbadas lutas contras as heresias da época: do gnosticismo ao arianismo; do nestorianismo ao monofisismo; do Monergetismo ao monotelitismo; do Pelagianismo ao Jansenismo; do Baianismo ao Donatismo; do Galicanismo ao Febronianismo. Do Reencarcionismo ao Wiclefismo. Do hussismo ao Rebatismo. Todos estes embates a venerada Igreja sempre venceu. Vieram então as Monarquias, as Repúblicas, os Impérios, os Principados, os Reinados de todos os matizes e épocas que passaram, mas a Egrégia Igreja permaneceu firme como uma rocha. Acompanhou as guerras, as fomes, as pestes, as lutas humanas, revoluções de direita à esquerda. Nos idos de 1054 veio o primeiro cisma da Igreja Cristã com a separação da Igreja Católica da Igreja Ortodoxa Oriental, a Igreja de Cristo ainda assim prevaleceu. Vieram depois mais outros conflitos doutrinários com uma linhagem de seitas medievais como os Valdenses, Cátaros, Montanistas ou Donatistas e mais uma vez a Santa Igreja conseguiu dominá-los. Logo depois vieram as Cruzadas, as Indulgências, os pecados da Inquisição, os Papados e Antipapados de pouca santidade, mas mesmo assim a Igreja passou por um doloroso processo de purificação e venceu. Em seguida veio a Reforma Protestante com toda a profusão de seitas e idéias heréticas (Luteranismo, Calvinismo, Anglicanismo) e suas inúmeras subdivisões até os tempos modernos, mas a Igreja Católica, embora desfalcada, possui ainda a primazia sobre todas as “igrejas” oriundas da Reforma. Ato seguinte vieram as idéias do Iluminismo, do Liberalismo, do Positivismo, do Anarquismo, do Racionalismo, do Deísmo e do Cepticismo burguês, do Darwinismo à Teoria Freudiana. Em tempos mais recentes vieram as ideologias nazistas, comunistas, socialistas e neoliberalizantes. Internamente enfrentou da Ultra-Ortodoxia ao Modernismo, passando pela Teologia da Libertação.

A igreja em todas as épocas e lugares continua firme e invencível na sua Doutrina, Moral e Sacramentos, nisto ela é mais do que vencedora. O que dizer de tudo isto ? Há algo de divino nisto tudo ? Por acaso existe alguma instituição humana que resiste a todas estas provas por tanto tempo ? Creio firmemente que existe algo mais que humano a sustentar, dominar e dirigir esta instituição bi-milenar que aí esta a serviço do Reino de Deus e dos Homens. É Ele quem educa a Sua Igreja, guiando-a por caminhos sempre novos.

Sem mais para o momento, creio que não há mais nada a esclarecer. Os argumentos bastam por si mesmos.

 

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