- Autor/Fonte: Church Militant
Um olhar mais atento para os cristãos dos dias de hoje denunciará fatalmente a quase absoluta indiferença dos protestantes à comemoração do Natal do Senhor, mas o que poucos sabem é que essa indiferença já foi um ódio tal que, em terras protestantes, a comemoração do Natal (e de outras festas cristãs) era crime passível de punição pelo Estado.
Entenda: a origem do ódio protestante ao Natal começa na Inglaterra, nos idos de 1650. Oliver Cromwell, ativo líder nas guerras civis inglesas de época, conclamou-se Lorde protetor do Reino em 1653. Apesar dos breves cinco anos de governo, Cromwell foi ferrenho em implementar suas reformas puritanas contra os elementos “papistas” na sociedade.
Na nova lei de Cromwell, entre outras regras, estava o banimento da celebração do Natal. A Escócia calvinista já havia proibido os festejos do Natal desde a década de 1560, e agora com o rei deposto e o parlamento populado de puritanos, a Inglaterra seguia os mesmos passos. O verdadeiro inimigo dos puritanos era a influência e a liturgia católicas; para eles tudo isso era muito absurdo, nada mais que celebrações “papistas” sem fundamento bíblico. Uma máxima puritana comum dizia: “Eles, para quem todos os dias são santos, não podem ter férias”.
Na década de 1640, o Long Parliament (parlamento inglês) começou a efetivamente abolir o Natal. A proibição foi oficializada em 1647, tornando a celebração não apenas do Natal, mas também da Páscoa e do Whitsun (domingo de Pentecostes) uma ofensa punível – passível de represália pelo Estado. Dançar, brincar e principalmente beber eram proibidos, assim como qualquer sinal de celebração especial, e as lojas eram forçadas a permanecer abertas no dia de Natal; a ascensão de Cromwell como Lorde Protetor apenas cimentou a lei. A Inglaterra teria que esperar até 1660, com a restauração da monarquia sob o rei Carlos II – um católico – para que o Natal fosse restaurado como feriado.
No Novo Mundo (no atual Estados Unidos da América), os coloniais de Boston seguiram seus homólogos puritanos na Inglaterra, evitando a festa em homenagem à Natividade de Nosso Senhor. Os peregrinos que chegaram no Mayflower trabalharam nos campos até 25 de dezembro, e a cidade de Boston – uma fortaleza puritana – proibiu o Natal de 1659 a 1681. Os que fossem pegos em folga para a celebração do 25 de dezembro eram forçados a pagar uma multa de cinco xelins – muito dinheiro na época.
Embora o Natal tenha sido legalizado na Inglaterra em 1660, a Coroa não pôde exercer influência sobre seus súditos americanos sobre o assunto até a década de 1680, quando modestas celebrações de Natal foram novamente permitidas em Boston. Sir Edmund Andros (da elite americana da época), que patrocinou o evento, temeu a violência de moradores puritanos e participou do evento ladeado por casacas vermelhas (seguranças armados) para protegê-lo enquanto ele cantava canções de Natal.
Ajudadas pelo sucesso de “A Christmas Carol”, de Charles Dickens, publicado com grande sucesso em 1843 e que apresentava uma história alegre do feriado, as percepções dos americanos sobre o Natal começaram a mudar lentamente. Em 1870, Ulysses S. Grant declarou o Natal um feriado federal, garantindo a celebração legal do nascimento de Nosso Senhor em todos os Estados americanos. Desde aquela época, o feriado foi comemorado como a época favorita do ano de muitos americanos protestantes.
A antiga hostilidade desapareceu da memória nacional – apesar de que não deve-se ignorar o fato de que, certa feita, os antepassados protestantes desse país procuraram acabar com o Natal; mas é importante, sobretudo, refletir sobre o quanto o ódio à fé católica pode ir longe, chegando até mesmo à privação da comemoração da sublime Encarnação do Verbo.