Curas espirituais?

Em meados de fevereiro deste ano (1999), o jornal carioca “O Dia” fez uma série de reportagens tratando de temas como curas espirituais, espiritismo, medicina, ciência, parapsicologia, etc. O estopim para a publicação destas matérias foi o escândalo envolvendo o Dr. Rubens, que diz “incorporar” o espírito do Dr. Fritz, mas que teve suas “proezas cirúrgicas” contestados por diversos pacientes, médicos e sua própria mulher.

Por ocasião de tais eventos, “O Dia” ouviu o Pe. Oscar Quevedo, uma referência mundial em termos de Parapsicologia. Suas palavras aparecem em itálico. Os nossos comentários vêm logo em seguida.

Comecemos com alguns trechos da reportagem “Palavras duras contra uma legião de inimigos de fé”, em O Dia – Domingo – 14 de fevereiro de 1999:

Dr. Fritz – “Não existiu. É tudo uma farsa. Qualquer um que queira dizer que é médico alemão vai dizer que se chama Adolf. Em que faculdade estudou? Onde foi enterrado? Onde está a família? Onde está o certificado de médico?”

Acreditamos que um bom caminho para os espíritas provar suas alegações seria responder questões singelas como estas acima. Ninguém está pedindo nada de sobrenatural (que eles dizem produzir com tanta facilidade!), mas referências históricas, ao menos para se ter certeza que o dito cujo realmente existiu. Repugna ao bom senso que este tal Fritz (se é que existiu!), depois de morto, tenha mantido seus conhecimentos medicinais, mas tenha esquecido a faculdade em que estudou ! E mais: aprendeu a “medicina espiritual” , mas é incapaz de ajudar a Medicina de hoje, com tantos problemas a resolver. É uma pena !

Frei Hugo Lino – “Outro frei franciscano diz que tem poderes, no Paraná ou Santa Catarina. Tive que falar contra ele. Fica muito feio um padre falar mau de um frei. É um curandeiro megalomaníaco. O provincial o mandou parar por exercício ilegal da medicina. Ele não obedece porque é um doente.”

Não é porque é “da Igreja” que se deve fechar os olhos. É lamentável que existam tais casos. Considere-se ainda que em uma hipótese como esta, o indivíduo estudou anos de Teologia e sabe que milagres de cura não acontecem à torta e à direita. Pobre Igreja: em Lourdes, embora milhares de curas sejam consideradas inexplicáveis, apenas algumas dezenas foram reconhecidas como milagrosas. E isto em décadas ! Alguém deve está errado nesta história.

Interessante também notar que o Superior do Frei já o repreendeu, mas não houve a correspondente obediência por parte deste último. Um exemplo não muito conveniente, diga-se de passagem.

Psicografia – “O inconsciente toma as rédeas da máquina humana. Religiões definem como transe ou êxtase. O nome técnico é estado alterado de consciência.”

Aquele que psicografa nada mais expressa do que as informações que estão em sua mente ou nas mentes de pessoas próximas. Não há incorporação de espírito. Se fosse assim, poderíamos fazer o seguinte pedido: que estes “médiuns escritores” incorporassem grandes pianistas, por exemplo, e arrasassem no piano. Mas não o fazem. Note-se ainda que estamos considerando a hipótese de verdadeira psicografia, enquanto fenômeno parapsicológico, e não das fraudes, tão comuns. Sem falar que, para as grandes massas, é muito mais atrativo ler um livro “do outro mundo” do que uma obra comum.

Desafio – “Quero ver algum curandeiro dar um corte na pele e cicatrizá-lo em uma hora. É um desafio que existe há 100 anos. Paga-se 10 mil dólares para quem conseguir.”

É o famoso desafio 4x3x2x1: um corte com 4mm de cumprimento, 3mm de profundidade , 2mm de largura (separando os tecidos), e uma hora para sará-lo. A parapsicologia mundial tem feito diversos desafios aos “poderosos” de plantão.

Apenas mais um exemplo: misturar as cartas de um baralho (não viciado, obviamente!) e deixar que o adivinho puxe algumas. Tanto quem embaralha como quem seleciona as cartas não pode ver o seu conteúdo. Isto evita que tal informação chegue à mente e possa ser lida! Pois bem: solicita-se então que o adivinho diga o que consta em tais cartas (o número, o naipe, a cor…). Não pode realizar tal tarefa . De fato, há casos de adivinhação sim, ainda que raros e involuntários, mas tal tem um pressuposto básico: que algum dos presentes conheça, de forma consciente ou inconsciente, a informação solicitada.

Chico Xavier – “Quero acreditar que Chico Xavier seja sincero, embora tenha sido pego em truques. Uma equipe da revista Manchete o flagrou com bola de borracha debaixo do braço. Era para dizer que saía perfume dele. Sofre de uma neurose-obsessiva-compulsiva. Um dia o desafiei para um debate. Mandou dizer que quando quisesse falar com um padre iria à sacristia. Foge sempre.”

Se alguém quiser comprar briga com um espírita, ouse falar da personagem acima. Logo surgem argumentos do tipo: “ele é tão caridoso; doa o dinheiro que recebe; consola as viúvas; conforta as mães que perderam seus filhos”, etc. Ora, ninguém está duvidando disso. Uma coisa não tem nada a ver com outra: não há o mínimo nexo causal em confortar mães sofredoras e daí se concluir que o sujeito recebe espíritos.

Afastando toda e qualquer hipótese de fraude, tem-se que a Parapsicologia explica como alguém (o sensitivo) consegue ler a mente de outra pessoa. No seguinte caso, onde há uma mãe aflita e uma pessoa que quer ajudar, este turbilhão de emoções até propicia o surgimento do fenômeno. Cabe ainda lembrar que as mensagens psicografadas são sempre de bonança, dizendo que o filho morto está bem, etc. Nunca alguém está no inferno (que eles não acreditam!) ou nos “mais baixo umbrais” o que desagradaria tanto a mãe como o médium. Isto vai de acordo com a predisposição das pessoas envolvidas: alguém querendo ser agradado, e outro querendo agradar.

Truques – “As operações são pura técnica. Há lugares bons. Próximo aos lábios, no pescoço, na barriga, nos seios. Impressiona muito. O olho é o paraíso dos curandeiros. Uma gota de lágrima misturada a dois litros de água ainda possui poder desinfetante. A parte branca do globo é muito resistente. É lugar ideal para meter alguma coisa. Repito esses truques.”

Para quem se interessar por esta matéria, recomendamos o livro do Pe. Quevedo “Curandeirismo: um mal ou um bem?” que inclusive vem com ilustrações.

No momento, queremos destacar apenas um caso que apareceu no programa “Ratinho”, do SBT: uma mulher que apresentava agulhas metálicas espalhadas por todo o corpo. Logo apareceram os exaltados kardecistas dizendo que “só um espírito poderia manipular assim a matéria”. Mero caso de aporte, como expressou o próprio Quevedo. De fato, havia um espírito sim: o da própria mulher. As agulhas foram retiradas de forma física, mecânica mesmo. No entanto, como evitar que o fenômeno continuasse ? Ora, se fosse o espírito de um morto, nada poderia impedir, muito menos as palavras de um mortal qualquer. Pois bem: bastou um tratamento a base de sugestões feito pelo CLAP (Centro Latino-Americano de Parapsicologia) para que o fenômeno cessasse. Conclua você mesmo se foi alguma “alma do outro mundo”.

Mãe Dinah – “Se Mãe Dinah fosse advinha não teria se candidatado. Por que não percebeu que só teria 17 votos? Um fracasso total. Por que não adivinha os números da Supersena?”

Todo mundo sabe como esta senhora ficou famosa. De fato, com tanta gente fazendo “previsões” o todo tempo, é até razoável que algumas “batam com a realidade”. Na Europa, há um instituto que cataloga estas previsões, e os casos de fracasso são infinitamente superiores aos de acerto, o que mostra bem o grau de confiabilidade que tais “fenômenos”.

É uma pena que Mãe Dinah tenha errado tão feio quanto a sua própria candidatura. Fosse eleita, estaria gozando de imunidade, e não poderia ser processada tão facilmente pelo Ministério Público, conforme trechos abaixo retirados da Revista Consultor Jurídico, em 23 de julho de 1999:

Enganação popular: Mãe Dinah é processada por estelionato A Justiça deve apurar as denúncias de crime de formação de quadrilha e estelionato no “Disque Mãe Dinah”, que promete previsões sobre o futuro das pessoas pelo serviço telefônico 0900. A decisão foi tomada pelo presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro Antônio de Pádua Ribeiro.
A usuária paulista Maria Elizabete Verderoce ficou insatisfeita com as previsões feitas a respeito de seu destino e denunciou o serviço ao Ministério Público. Foi instaurada ação penal contra a Mãe Dinah, cujo verdadeiro nome é Benedicta Finazza.
Elizabete não se conformou ao descobrir que as previsões seriam feitas por um programa de computador. Ela teria constatado o fato ao ligar duas vezes para o serviço e obter informações idênticas.
A usuária fez duas ligações de 7 minutos, que lhe custaram R$ 30,00. Consta no processo que os técnicos do serviço inseriam dados, como nome, data de nascimento e sexo, em um programa de computador, que preparava as os diagnósticos de previsões para a vidente.
A paulista também teria utilizado os números da sorte para jogar na loto, sena e jogo do bicho, mas não ganhou nenhum prêmio. Uma propaganda exibida na televisão, feita por Mãe Dinah, sugeria que algumas pessoas já tinham ganhado na loteria esportiva, depois de ouvir os números previstos por ela.
O advogado das pessoas ligadas à Vimeltary entrou com habeas corpus para trancar a ação no Tribunal de Justiça de São Paulo. Os desembargadores negaram o pedido e ele recorreu ao STJ.

Curandeiros – “O curandeiro é perigoso. Pode tirar a dor por sugestão, mas não cura a doença. Sabe-se que 86% das doenças são de origem psíquica. Tirando a dor, mas não tirando a causa, a doença se represa e depois mata.”

O exemplo típico são os problemas na coluna. O curandeiro até pode tirar a dor causada por uma hérnia de disco, mas isto não quer dizer que o paciente esteja curado, de modo que os problemas de saúde poderão retornar, de forma até mais grave.

Sem cobrança – “É o curandeiro histérico com vontade de aparecer. Arigó não cobrava. Mas ficou dono de um terço da área rural de Congonhas dos Campos. Dono dos melhores hotéis e quatro principais farmácias da cidade. Colocava tudo em nome da família. Ficou riquíssimo. Essa sem-vergonhice é muito conhecida.”

Para quem não lembra, Arigó foi o mais famoso “médium incorporador” do Dr, Fritz. Apesar de tantas intimidades com o falecido, também nunca ofereceu dados históricos sobre o morto. Atualmente, há várias pessoas que dizem receber a tal entidade, sendo o Rubens o mais famoso.

Seria interessante saber como um mesmo espírito poderia agir em tantas pessoas, e até simultaneamente, haja vista que as consultas são geralmente diárias.

Houve que lançasse o seguinte desafio: chamar os tais médiuns para bater um papo em alemão sobre medicina com um médico germânico. Tal proposta é falha em termos de parapsicologia, pois as informações pedidas (a medicina e o idioma alemão) constam na mente de, pelo menos, um dos presentes (o médico germânico). No entanto, tal proposta já serviria para afastar as fraudes voluntárias, grosserias, onde nem mesmo há qualquer fenômeno paranormal, que é involuntário.

Não custa lembrar também a megalomania que geralmente atinge tais pessoas. Douglas Home, ex-espírita e, sem dúvida, um dos maiores sensitivos do século XIX, declarou que já tivera a honra de encontrar ao menos doze Maria Antonieta (rainha da França), seis ou sete Maria Stuart (rainha da Inglaterra), uma multidão de São Luís e outros reis, uns vinte Alexandres e Césares; nunca, porém, um personagem insignificante.

Realmente, ainda hoje, quando as pessoas dizem se recordar de suas vidas passadas (?!), nunca se foi um simples camponês, embora este tipo fosse o predominante ao longo da História!

Clínica – “Atendemos pessoas que foram maltratadas por curandeiros. Nos dá um trabalho enorme. Às vezes, não há mais remédio. Deixam de sentir a dor, acham-se curados, quando procuram o médico já é tarde. No Clap, temos dois médicos, um psiquiatra e dois psicólogos.”

E, quase finalizando, não custa passar o endereço do CLAP em São Paulo:

CLAP – Centro Latino-Americano de Parapsicologia – Pesquisa, Ensino e Clínica
Av. Leonardo da Vinci, 2123 – Jabaquara
CEP: 04313-002 – São Paulo – SP

Umbanda e quimbanda – “Muitos são sinceros, mas cometem erros de interpretação. Os fenômenos que eles têm são psicológicos, histéricos e até parapsicológicos. Não são exus, orixás, espíritos dos mortos.”

Aqui está o resumo e a essência de toda esta estória: erro de interpretação, excluindo os casos de fraudes, evidentemente. Não são poucos os médiuns e pais-de-santo que, ao tomarem conhecimento com a Parapsicologia, abandonam suas errôneas posições. Problemático mesmo é permanecer no erro.

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