Há poucos dias, encontrei-me com um grupo de internautas católicos, membros de uma comunidade virtual de relacionamentos com mais de 375 mil integrantes. Reunidos no Centro de Estudos do Sumaré, em retiro, refletiam sobre os rumos da evangelização virtual, seus desafios e estratégias. Esta iniciativa põe em relevo a importância de se manter a fidelidade à Tradição a ao Magistério eclesiástico nesse peculiar apostolado.
A Igreja, atenta a este potencial e às transformações revolucionárias por ele provocadas, fez publicar, com data de 22 de fevereiro de 2002, dois documentos intitulados: A Igreja e a internet e Ética na internet.Hoje abordo o primeiro.
Sempre e, de modo particular, após o Concílio Vaticano II, os meios de comunicação social têm merecido crescente destaque nos ambientes eclesiásticos.
O documento A Igreja e a internet contribui para maior integração desses modernos recursos na atividade pastoral. A missão que Jesus deixou à Igreja foi a de transmitir aos confins da terra, até ao final dos tempos, sua mensagem salvadora. Ela deve ser cuidadosamente distinguida do crescimento do Reino de Cristo. Contudo, seu progresso é de grande interesse para o Reino de Deus, na medida em que pode contribuir para organizar a sociedade humana (Gaudium et Spes, nº 39). Ora, os atuais meios de transmissão de idéias representam fatores importantes na História, pois poderão cooperar, de forma eficaz, para os valores da dignidade humana, da comunidade fraterna e da liberdade, além de facilitar a transmissão do Evangelho.
Essas considerações se aplicam, de modo particular, à internet, “que contribui para mudanças revolucionárias no comércio, educação, política, jornalismo, relações entre as nações, as culturas, transformações no modo de as pessoas se comunicarem mais na própria concepção da vida” (nº 2). São, assim, múltiplas as implicações do uso dessa grande rede na religião. Somos encorajados a uma correta utilização em vista do desenvolvimento humano, da justiça e da paz. Outra preocupação se refere à comunicação na Igreja e para ela. Deus continua a se dirigir à humanidade através do Magistério, que recebeu o encargo de interpretar autenticamente suas palavras: “Quem vos ouve, a mim ouve”, diz o Senhor (Lc 10,16). Daí se pode avaliar a importância do progresso proporcionado pela internet a essa missão que foi confiada por Cristo à Igreja. Paulo VI, em Evangelii Nuntiandi,(nº 43), afirmava que “se sentiria culpado diante do Senhor se não utilizasse a mídia na evangelização”. João Paulo II, em Redemptoris Missio (nº 37) chamou os meios de comunicação social de “primeiro areópago dos tempos modernos” e afirmou que não é suficiente utilizar esses recursos na difusão do Evangelho, mas é necessário integrar a mensagem na nova cultura criada por eles.
Todas essas considerações se aplicam integralmente e, de modo muito particular, à internet. Trata-se de oportunidade extraordinária posta à disposição também da doutrina cristã. João Paulo II, no discurso para a XXXV Jornada Mundial das Comunicações Sociais, de 27 de maio de 2000, utiliza uma expressão de grande entusiasmo: “Basta consi- derar as capacidades positivas para difundir a informação e o ensinamento religiosos, além de todas as barreiras e fronteiras. Uma audiência tão numerosa que ultrapassa a imaginação mais audaciosa de todos aqueles que pregaram o Evangelho antes de nós”.
Múltiplas são as oportunidades e desafios. Extraordinárias riquezas estão à disposição nas informações do dia-a-dia, como por exemplo: as bibliotecas, museus, os famosos centros de peregrinação, os documentos do Magistério eclesiástico, as ocasiões de oração, a catequese, a sabedoria religiosa de diversas épocas. Devemos também estar atentos às limitações, pois a realidade virtual do espaço cibernético não substitui a comunidade interpessoal concreta, nem os sacramentos, a liturgia ou a proclamação imediata e direta do Evangelho.
Um número crescente de paróquias e dioceses já faz uso eficaz da internet para esses fins e muitos outros. A Santa Sé nos dá um excelente exemplo neste campo através do seu site, veiculado em sete idiomas, pelo qual se pode ter acesso a um vasto material de pesquisa, como o arquivo secreto, a biblioteca do Vaticano, discursos dos Santos Padres, visitas virtuais a museus, vídeos, fotos, transmissões ao vivo de cerimônias e eventos, entre outros.
Essa tecnologia favorece o surgimento de uma opinião pública no interior da Igreja, pela facilidade de diálogo entre seus membros. Igualmente beneficia o pobre, melhorando o atendimento de suas necessidades. No campo religioso devemos estar atentos às verdades de Fé que não podem ser, em caso algum, deixadas à interpretação arbitrária.
A educação para o uso da internet deve integrar a formação dos seminaristas, padres, religiosos e pessoal leigo! Infelizmente, ela, por si, tanto pode ser usada para o bem como para o mal.
Outro aspecto particularmente grave, que deve nos manter alertas, é a proliferação de material que pode trazer abusivamente o rótulo “católico”. O documento, que ora comentamos, adverte para essa situação: “Um sistema de certificado, (…) sob o controle de representantes do Magistério, poderá ser útil no que concerne ao material de natureza especificamente doutrinal ou catequética. A idéia não é impor uma censura, mas oferecer aos usuários da internet orientações confiáveis sobre a posição autêntica da Igreja” (nº 11). Desde já fica a advertência.