Leitor tem dúvidas sobre a moralidade do uso de trajes de banho por católicos

Estimados irmãos do Veritatis Splendor. Gostaria de saber se é moralmente aceitável para o católico usar roupas de banho como maiôs, biquínis e sungas. Também gostaria de perguntar quais são as partes do corpo do homem e da mulher que não devem, por pudor e modéstia, serem expostos no modo de se vestir.Desde já, agraceço a todos pelo excelente apostolado realizado em defesa da Fé Católica. Atenciosamente Paulo Vinícius Costa Oliveira + M

Caríssimo sr. Paulo Vinícius, estimado em Cristo,

A moral católica nem sempre tem respostas específicas para casos concretos. Não tem a Igreja uma espécie de cartilha de “pode e não pode”, pois tal se revela produto de uma mentalidade puritana, protestante. Daí que iremos expor, nessa resposta, as regras gerais da moral, e a partir delas traçar algumas coordenadas, a título de mera opinião.

É ponto pacífico que a Igreja prega o pudor. Por causa da concupiscência, somos muitas vezes tentados pelos nossos olhos, e as partes mais íntimas do corpo, causando uma natural excitação, precisam estar cobertas. Não se trata de uma doutrina ultrapassada, dado que a Igreja não muda, tendo, na verdade, não uma moral própria, uma moral católica, estritamente falando, mas usando a moral natural e regras baseadas na Revelação ou com ela coerentes.

Tanquerey, em seu clássico Compêndio de Teologia Ascética e Mística, explica, sobre o pudor:

“Modestia del cuerpo. Para tener a raya a nuestro cuerpo hemos de comenzar por guardar bien las reglas de la modestia y de los buenos modales: hay aquí abundante materia de mortificación. El principio que ha de servirnos de regla es aquel de San Pablo: ‘¿No sabéis que vuestros cuerpos son miembros de Cristo? ¿No sabéis, acaso, que vuestros cuerpos son templos del Espíritu Santo, que habita en vosotros?’ (1Cor 6,15-19). Hemos de respetar nuestro cuerpo como un templo santo, como un miembro de Cristo. Nada, pues, de vestirle con vestidos poco decentes y que no se idearon sino para incitar la curiosidad y el regalo” (772; cf. 773-774).

“Modestia de los ojos. Hay miradas gravemente pecaminosas, que hieren no solamente el pudor, sino también la castidad (Mt 5,28), y de las que ciertamente hemos de abstenernos. Otras hay que son peligrosas, cuando, sin razón para ello, fijamos la vista en personas u objetos que de suyo pueden mover a tentación. Por eso nos advierte la Sagrada Escritura que no debemos parar los ojos en ninguna doncella, para que su belleza no sea para nosotros motivo de escándalo: ‘no fijes demasiado tu atención en doncella, y no te entramparás por su causa’ (Eclo 9,5). Y ahora, cuando la licencia en las exhibiciones, la inmodestia en el vestir, la procacidad de las representaciones teatrales, y de algunos salones, nos cercan por todas partes de peligros, ¿qué recogimiento no habremos de tener para no caer en pecado?

Por eso el cristiano de verdad, que quiere salvar su alma cueste lo que costare, va mucho más allá, y para estar seguro de no rendirse al deleite sensual, mortifica la curiosidad de sus ojos” (776).
 
Também o Fr. Antonio Royo Marín, OP, ilustríssimo teólogo falecido há pouco, ensina:

“El alma que aspire seriamente a santificarse huirá como de la peste de toda [innecesaria] ocasión peligrosa. Y por sensible y doloroso que le resulte, renunciará sin vacilar a espectáculos, revistas, playas, amistades o trato con personas frívolas y mundanas, que puedan serle ocasión de pecado. Por la calle, sobre todo en las ciudades populosas modernas, extremará la modestia de sus ojos para no tropezar con la procacidad de los escaparates, la inmodestia descarada en el vestir, la licencia desenfrenada de las costumbres. Y sin llegar a extremos ridículos o situaciones violentas (como sería, v. gr., andar contando los adoquines o dejar de saludar a una persona conocida), andará vigilante y alerta para no dejarse sorprender” (Teología de la perfección cristiana, n.238).

O Catecismo da Igreja Católica, outrossim, é claro, ao discorrer sobre o pudor:

“A pureza exige o pudor. Este é uma parte integrante da esperança. O pudor preserva a intimidade da pessoa. Consiste na recusa de mostrar aquilo que deve ficar escondido. Está ordenado castidade, exprimindo sua delicadeza. Orienta os olhares e os gestos em conformidade com a dignidade das pessoas e de sua união.

O pudor protege o mistério das pessoas e de seu amor. Convida à paciência e à moderação na relação amorosa; pede que sejam cumpridas as condições da doação e do compromisso definitivo do homem e da mulher entre si. O pudor é modéstia. Inspira o modo de vestir. Mantém o silêncio ou certa reserva quando se entrevê o risco de uma curiosidade malsã. Torna-se discrição.

Existe um pudor dos sentimentos, como existe o do corpo. O pudor, por exemplo, protesta contra a exploração do corpo humano em função de uma curiosidade doentia (como em certo tipo de publicidade), ou contra a solicitação de certos meios de comunicação ir longe demais na revelação de confidências íntimas. O pudor inspira um modo de viver que permite resistir às solicitações da moda e à pressão das ideologias dominantes.” (Cat., 2521-2523)

Ele “inspira o modo de vestir”, diz o Catecismo, texto oficial de referência e ensino da doutrina católica, aprovado por João Paulo II.
 
Como falamos no início, há uma doutrina moral sobre o pudor na Igreja Católica, mas corremos o risco, ao trabalharmos só com a casuística, de absolutizar aquilo que é relativo – erro tão grande quanto o relativizar o que é absoluto. Se é verdade que temos de evitar o laxismo, i.e., a prática daqueles que tudo desculpam, tudo toleram, tudo aprovam no terreno moral, não é menos verdade que é preciso combater o rigorismo, doutrina dos que consideram tudo pecado, absolutizam o que é relativo, e reduzem a moral católica a uma prática influenciada pelo puritanismo protestante. Não custa lembrar que o rigorismo ganhou força nos meios jansenistas, fortemente marcados pela teologia calvinista. Esse rigorismo foi condenado pela Igreja em 7 de dezembro de 1690, por um decreto do Santo Ofício (cf. Denz. 2301-2332).

A Igreja tem uma palavra a respeito do valor absoluto do valor e da relatividade das formas de expressá-lo, inclusive nos trajes:

“As formas revestidas pelo pudor variam de uma cultura a outra. Em toda parte, porém, ele permanece como o pressentimento de uma dignidade espiritual própria do homem. O pudor nasce pelo despertar da consciência do sujeito. Ensinar o pudor a crianças e adolescentes é despertá-los para o respeito à pessoa humana.” (Cat., 2524)

Pois bem, caríssimo leitor, o senhor indaga acerca da licitude das roupas de banho. Certamente, em si, como todo objeto, não são más nem boas. Sua neutralidade importa em reconhecer um uso mau e mesmo algumas formas más em algumas delas (como um uso bom e formas boas em outras). Tudo passa pelo bom senso.

Na prática, evite o católico vestir trajes (não só de banho, mas mesmo os outros) que despertem uma vã curiosidade das partes íntimas. Nem por isso, adotará as roupas próprias de muçulmanos ou de puritanos do século XIX. A Igreja sempre viu na beleza, e mesmo na beleza dos vestes, um sinal da verdade divina. É preciso associar a elegância com a sobriedade, o desejo pela pureza (beleza espiritual) com a beleza exterior que a significa. É lícito o uso de trajes de banho, mas é preciso ter muito cuidado na escolha dos mesmos, principalmente porque, de uns tempos para cá, as peças mínimas, mormente no vestuário feminino, têm abundado. Algumas praias onde esses trajes são mais usados devem ser evitadas pelo fiel que busca sua santidade e, se por acaso, tomando todos os cuidados, ver-se um homem diante de diminuta roupa de banho no corpo de uma mulher bonita, o desvio do olhar, aliado à forte e heróica resistências às tentações, é a medida exigida ao cristão.

Tudo é questão de prudência, de vigilância, de discernimento, e de amor à verdade e ao pudor. A elegância sóbria, a fuga tanto do rigorismo quanto do laxismo, são pistas morais para que o católico, no caso prático, decida, de preferência com a ajuda de um diretor espiritual experimentado, douto e piedoso.

Em Cristo,

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